O aumento dos preços do botijão de gás e da gasolina pesou com força em outubro e a prévia da inflação oficial voltou a acelerar no mês, acumulando em 12 meses alta de quase 10 por cento e tornando a vida do Banco Central ainda mais difícil na tarefa de domar a escalada dos preços.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,66 por cento em outubro, após alta de 0,39 por cento em setembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. Trata-se do maior nível para outubro desde 2002, quando subiu 0,90 por cento.
No acumulado em 12 meses até outubro, a alta do IPCA-15 chegou a 9,77 por cento, contra 9,57 por cento no mês anterior, alcançando o maior nível desde dezembro de 2003 (+9,86 por cento) para esses períodos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,68 por cento na comparação mensal e de 9,79 por cento em 12 meses.
A aceleração dos preços em outubro foi generalizada, com sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados mostrando maior pressão em relação ao mês anterior.
Os que mais influenciaram o resultado foram os três com maior peso sobre o orçamento das famílias: Habitação (+1,15 por cento), Transportes (+0,80 por cento) e Alimentação e Bebidas (+0,62 por cento).
Os três juntos impactaram em 0,48 ponto percentual e responderam por 72,73 por cento do IPCA-15 de outubro.
A alta no indicador voltou a acelerar em outubro após três meses de desaceleração, devido principalmente ao reajuste de gás de botijão, de 10,22 por cento após alta de 5,34 por cento no mês anterior, como reflexo do aumento de 15 por cento nas refinarias autorizado pela Petrobras.
Pesou ainda o aumento nos preços da gasolina, de 6 por cento nas refinarias e resultou em alta nas bombas de 1,70 por cento do combustível.
“Se os preços livres continuarem pressionado o indicador, é possível que o IPCA chegue a 10 por cento este ano. E deve continuar o quadro bastante pressionado, uma vez que serviços não mostra sinal de arrefecimento a despeito da recessão”, disse o analista de inflação da Tendências Consultoria, Marcio Milan, que calcula alta do IPCA de 9,6 por cento neste ano e de 6,5 por cento em 2016.
As projeções para a inflação neste ano e o próximo vêm piorando constantemente, afastando-se do objetivo do BC de levar a inflação ao centro da meta no final de 2016, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Pesquisa Focus do BC mostra que a estimativa de economistas agora é de que o IPCA termine este ano com avanço de 9,75 por cento e 2016 com 6,12 por cento.
Isso mesmo diante da recessão enfrentada pelo país, com o mercado de trabalho em deterioração e confiança de consumidores e empresários abalada, em meio a incertezas na área fiscal e crise política com movimentos a favor do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
O BC anuncia nesta noite a decisão sobre a taxa básica de juros, e a expectativa de todos os 48 analistas consultados pela Reuters é que a Selic permaneça em 14,25 por cento, maior nível desde 2006. A autoridade monetária já deixou claro que pretende manter a Selic onde está por mais tempo.
“O repasse da depreciação do real, do grande choque dos preços administrados sobre os livres, a inércia e mecanismos formais e informais de indexação também devem manter a inflação sob significativa pressão em 2016 apesar da forte contração do PIB projetada em 2015 e 2016″, avaliou o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em nota.
Ele avalia que a inflação acima do centro da meta do governo deve reduzir a capacidade de o BC cortar a taxa de juros de forma significativa no próximo ano.
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