quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ingresso de cambistas para final da Copa chegou a R$ 50 mil, diz policial


Última testemunha de acusação falou sobre escutas feitas pela 18ª DP.
Ingressos para jogos da Copa eram vendidos, no mínimo, a R$ 900.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
Audiência foi realizada nesta quarta no TJ (Foto: Henrique Coelho/G1)Audiência foi realizada nesta quarta no TJ (Foto: Henrique Coelho/G1)
Uma policial civil contou detalhes sobre escutas feitas pela 18ª DP (Praça da Bandeira) contra a quadrilha acusada de de atuar na venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo de 2014, na última audiência das testemunhas de acusação do caso. Segundo ela, um dos ingressos para a final do mundial era oferecido a R$ 50 mil por um cambistas com escutas feitas na delegacia.
A inspetora afirma que passou o mês inteiro de junho transcrevendo as escutas telefônicas de Sérgio Antônio de Lima, conhecido como Serginho.
"Eu fazia a oitiva e transcrevia. Ele recebia muitas ligações, de minuto em minuto, para troca de ingressos e de compra e venda, sempre em números grandes. Ele mencionava outras pessoas da quadrilha, mas todas por apelidos", contou a inspetora.
Os valores dos ingressos, segundo ela, eram de pelo menos R$ 900, podendo chegar a R$ 1 mil. "Um dos ingressos para a final chegou a ser pedido a ele, e o Sergio disse que, se conseguisse, seria por R$ 50 mil", afirmou.
Ela afirma que um dos membros da quadrilha, ao ser preso, foi assunto de conversas entre Sérgio e outros membros da quadrilha. "Ele dizia aos outros para que tomassem cuidado", relata.
Em uma das prisões efetuadas, foram apreendidas máquinas de passar cartões, cadernos de agências de turismo, além de ingressos de jogos da Copa e outros eventos, como o carnaval.
Houve outra operação no Aeroporto Santos Dumont, em que Mohamoud Lamine Fofana comprou garrafas de uísque em formato de chuteira para uma festa na Lagoa. "Eu vi ele recebendo essas garrafas e entregando dois ingressos junto com a garrafa", afirma ela.
Primeira audiência
Na primeira audiência, no dia 17, foram dados detalhes sobre o funcionamento do esquema.  O delegado que comandou o caso,  Fábio Barucke, deu detalhes do trabalho da quadrilha, que segundo ele, agiu em outras sedes de Copas do Mundo e que chegou a lucrar mais de 1.000% em cima de cada ingresso vendido. No Rio de Janeiro, a quadrilha atuava em conjunto com empresas de turismo, que vendiam esses ingressos com preços mais altos.
Barucke comandava até o ano passado a 18ª DP (Praça da Bandeira), na Zona Norte do Rio. Ele afirmou que o inglês Raymond Whelan, CEO da Match Service, que mantinha contrato de exclusividade para venda de ingressos, conseguia as entradas para os jogos através de dirigentes e funcionários da Fifa e de seleções da Copa. Whelan, apesar da denúncia do Ministério Público, teve o caso arquivado pela 6ª câmara criminal em fevereiro, e por isso não está como réu no julgamento.
Fabio afirmou que há outras pessoa envolvidas no esquema que não foram citadas na denúncia, e que gostaria que a investigação continuasse.
"Cada pessoa da Fifa tinha um ingresso para ele e seus familiares. Houve até casos dentro da Granja Comary. Houve um roupeiro da Seleção Brasileira que revendia ingressos para a quadrilha, mas ele não foi identificado", explicou o delegado.
Segundo ele, Whelan tinha passagem privilegiada pelo hotel Copacabana Palace. "Ele ia lá com frequência, se encontrava com Dunga, outros jogadores e executivos da Fifa, existem gravações que provam isso", afirmou.
Além de contatos no Rio, havia também uma parte do grupo em São Paulo, através de réus como Alexandre da Silva Borges. "Ele era responsável por revender os ingressos em São Paulo, juntamente com outras pessoas", afirmou Barucke.
O delegado é uma das 17 testemunhas contra o franco-argelino Mohamed Lamine Fofana, considerado um dos chefes do esquema; Alexandre da Silva Borges, o "Xandy"; Antonio Henrique de Paula Jorge, “Pará”, “Patrão” ou “Jogador”; Marcelo Pavão da Costa Carvalho, o “Caju”; Sergio Antonio de Lima, o “Serginho"; Julio Soares da Costa Filho; Fernanda Carrione Paulucci; Ernani Alves da Rocha Junior, o "Junior"; Alexandre Marino Vieira e José Massih. Todos vão responder por cambismo, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção ativa.
Ao todo, 12 pessoas foram presas na operação da Polícia Civil, batizada de "Jules Rimet". Destes, apenas o CEO da Match, única empresa autorizada a vender ingressos para a Copa, está em liberdade, graças a um habeas corpus e posterior decisão da 6a Câmara Criminal.

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