segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Comércio do Rio está 'sufocado' pelo poder do tráfico, afirmam entidades do setor

Guerra na Rocinha prejudica comércio local e toda a cadeia produtiva do setor, afirmam comerciários (Foto: Reprodução/GloboNews)O comércio carioca está “sufocado” pelo poder do tráfico de drogas. É o que afirmam entidades representativas do setor que, nesta segunda-feira (25), divulgaram uma nota em que pedem “um basta na guerra” vivida na cidade, que demandou atuação direta das Forças Armadas para tentar conter a violência.
Assinada pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL-Rio) e pelo Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município (Sindilojas-Rio), a carta manifesta “repúdio ao estado de descalabro por que passa a segurança da nossa cidade e do nosso estado”.
Segundo as entidades, o comércio é um dos setores econômicos “mais prejudicado pela incontrolável violência que se abate sobre a cidade e o estado” e está "sufocado”.
“O Rio não pode continuar sobre o julgo dos traficantes que vez por outra assustam a cidade e ameaçam o cidadão de bem com tiroteios, ônibus queimados, escolas e comércio fechados, policiais e inocentes assassinados, enfim um verdadeiro estado de descontrole”, destacam o CDL-Rio e o Sindlojas-Rio.
Nos primeiros seis meses deste ano, segundo as duas entidades, o comércio carioca gastou R$ 1 bilhão em dispositivos de segurança. O valor, segundo destacaram, “representa uma grande parcela no nosso faturamento, dinheiro que poderia ser investido na ampliação dos estabelecimentos comerciais, gerando emprego e renda”.

Prejuízo inestimado

De acordo com o presidente do CDL-Rio, Aldo Gonçalves, ainda não se sabe qual o prejuízo acumulado pelo comércio carioca desde o dia 17 de setembro, quando teve início a guerra entre traficantes rivais na Rocinha, Zona Sul do Rio.
“Ainda não conseguimos fazer essa medida. É difícil fazer levantamento estatístico tão rápido. Mas, não há dúvidas de que isso [o conflito na Rocinha] afeta diretamente o comércio. Afeta negativamente. Além do desfalque das lojas fechadas, as pessoas ficam com medo de sair às ruas”, afirmou Gonçalves.
Ao longo da última semana, o comércio da Rocinha ficou fechado em sua quase totalidade. Parte do fechamento ocorreu sob ordens dos traficantes. A outra parte em decorrência ao clima de terror vivido pelos moradores da comunidade.
Segundo o presidente da CDL-Rio, houve fechamento de lojas em outras áreas da cidade, mesmo que distantes da Rocinha. “A Tijuca [na Zona Norte] sofreu muito. Há um clima de medo que afeta a vida da cidade inteira”, apontou.

Comércio da Rocinha tem dinâmica própria

Com uma população estimada em quase 70 mil pessoas no Censo de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Rocinha tem intenso comércio que, segundo Aldo Gonçalves, possui dinâmica própria e peculiar.
“É um comercio muito específico. Na época do Nem [Antônio Bonfim Lopes, que comandava o tráfico na Rocinha], ele estimulou o comercio da Rocinha. Algumas grandes lojas varejistas foram para lá, mas acabaram saindo porque passaram a ficar sob o julgo dos traficantes. Hoje, o comércio lá é todo informal”, ressaltou o presidente da CDL.
Embora a informalidade coloque dinheiro em circulação, Gonçalves pondera que ela não aquece a economia.
“Isso [informalidade movimentar a economia] é bastante questionável. Ela gira a economia informal e prejudica a economia formal. A fronteira com o ilícito na informalidade é muito pequena. Há o contrabando, a falsificação de produtos e ausência de tributação. Isso acaba prejudicando toda a cadeira produtiva”, enfatizou.

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