terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Após fechar Ponte, manifestação do Comperj chega à Petrobras


Bomba foi jogada quando manifestante tentou chegar na Petrobras.
Mais de 150 pessoas protestam contra atrasos de salários.

Cristina BoeckelDo G1 Rio
Policiais protegem a entrada do prédio da Petrobras ao lado de boneco com uniforme dos trabalhadores dentro de um caixão simbólico (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Policiais protegem a entrada do prédio da Petrobras ao lado de boneco com uniforme dos trabalhadores dentro de um caixão simbólico (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Depois de interditarem as pistas da Ponte Rio-Niterói por duas horas no início da tarde desta terça-feira (10), mais de 150 funcionários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que cobram três meses de salários atrasados, seguiram em passeata pela Zona Portuária do Rio até a sede da Petrobras, no Centro. Várias vias foram fechadas e o trânsito ficou complicado na região.
Por volta das 15h30, na chegada ao prédio da empresa para a qual trabalham como terceirizados – são contratados pela Alumni –, um manifestante tentou entrar no local, e a polícia atirou uma bomba de efeito moral para dispersar a multidão, que logo se acalmou.
O clima ficou tranquilo e o grupo permaneceu no local. Às 18h20, eles aguardavam ônibus fretados para levá-los embora.
Por volta das 14h30, o grupo chegou a fechar a faixa lateral da Avenida Brasil, uma das vias principais da cidade. Em seguida, entrou na Av. Francisco Bicalho, em direção ao Centro, passando pela Avenida Presidente Vargas, fechando duas faixas da pista central em direção à Candelária, sob um calor de 39°C.
A segurança foi reforçada na frente do prédio, protegido pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Os agentes também protegiam a sede do BNDES, que está com as portas fechadas. Um helicóptero da PM sobrevoa a região.
Funcionários ouvem discurso do sindicato (Foto: Cristina Boeckel/ G1)Funcionários ouvem discurso do sindicato
(Foto: Cristina Boeckel/ G1)
Sem salários
Um dos representantes dos manifestantes é o operador de empilhadeira e manipulador Leopoldo Cunha Freire da Silva. Ele trabalha na obra do Comperj desde 2010, quando, segundo ele, era tudo "terra e mato".
Nascido em Ibiapina, no Ceará, se mudou deNiterói para Itaboraí para trabalhar na obra. Leopoldo conta que ele e os colegas estão sem receber desde o dia 20 de dezembro. O plano de saúde e demais benefícios oferecidos pela Alumini Engenharia foram cortados.
"Eu estou me sustentando com a ajuda dos amigos e do sindicato. Perto do dinheiro que foi roubado desta empresa, os R$ 14 milhões que nos devem é uma mixaria", desabafou. 
Trabalhadores de empresa contratada pelo Comperj dizem que estão há três meses sem salário (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Trabalhadores do Comperj estão há 3 meses sem salário (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
O valor se refere à decisão da Justiça do Trabalho, que determinou o pagamento da quantia pela Alumini. Caso a empresa, responsável pela obra, não pague, a Petrobras terá que quitar a dívida, conforme a sentença.
Leopoldo conta ainda que espera que a empresa não recorra na Justiça para que eles possam receber os pagamentos atrasados.
De acordo com os trabalhadores, o salário da maioria dos manifestantes chega a, no máximo, R$ 2,5 mil. A exceção são os supervisores, que recebem salários maiores e estão com os pagamentos atrasados há mais tempo. Eles ameaçam realizar novos protestos se os salários não forem pagos até sexta-feira (13).
Funcionários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) interditam duas pistas da Ponte Rio Niterói, no Rio de Janeiro, durante protesto. Os manifestantes, que estão com salários atrasados há três meses, seguem para a sede da Petrobras (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Ponte ficou fechada por cerca de duas horas (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Fu8ncionários do Comperj protestam na Ponte Rio-Niterói. (Foto: Reprodução/ TV Globo)Funcionários do Comperj fecharam a Ponte Rio-Niterói (Foto: Reprodução/ TV Globo)


Reforço em outros modais
A manifestação na Ponte causou transtornos no trânsito da cidade. A Secretaria de Estado de Transportes determinou reforço imediato no serviço de barcas, trens e ônibus intermunicipais. A medida foi mantida até a normalização do tráfego na ponte e nos acessos ao Centro.
Por conta dos impactos na Linha Vermelha e na Avenida Brasil, os trens da Supervia foram uma opção para os passageiros que saírem do Centro para Zona Oeste. As barcas operaram com frota total e tiveram aumento de mais 50% no número de passageiros transportados na travessia entre os municípios Rio e Niterói. A Fetranspor implantou reforço nas linhas de ônibus intermunicipais que partem de Niterói com sentindo a São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
Manifestantes querem receber atrasados
Este é mais um protesto dos funcionários terceirizados do Comperj que afirmam não receber salários há três meses. Eles reivindicam o pagamento dos direitos trabalhistas, tanto dos efetivos quanto dos recentemente demitidos, e uma definição por parte da empresa, a Alumini, sobre a continuidade do trabalho no complexo, que foi interrompido.
Grupo se deslocava pela Ponte Rio-Niterói com os carros esperando atrás (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Grupo se deslocava pela Ponte Rio-Niterói com os carros esperando atrás (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Segundo o sindicato (Sintramon), cerca de 2,5 mil pessoas estão com os salários atrasados, sendo que 127 não recebem desde novembro de 2014. Desde o início dos protestos, na quinta-feira (8), os acessos às obras são bloqueados, provocando a paralisação das atividades.
O Sintramon entrou na Justiça do Trabalho de Itaboraí com uma medida cautelar para garantir o pagamento aos trabalhadores. A empresa pagou apenas duas das três parcelas do que havia acertado no Ministério Público do Trabalho (MPT) para a quitação das verbas rescisórias de cerca de 200 demitidos.
A decisão de entrar com as ações na Justiça aconteceu devido à impossibilidade de acordo, já que os representantes da Alumini não compareceram à audiência. A empresa comunicou, no dia 13 de janeiro, ao MPT sua ausência na audiência dizendo que não poderia propor novo acordo. As verbas da Alumini estão bloqueadas por conta de uma ação movida por trabalhadores da empresa que atuam na Refinaria Abreu e Lima.
Ponte Rio-Niterói em protesto (Foto: Reprodução/TV Globo)Protesto fechou as pistas da Ponte Rio-Niterói (Foto: Reprodução/TV Globo)
Segundo a Alumini, esse bloqueio deixou a empresa impossibilitada de pagar os salários de dezembro aos trabalhadores ativos, assim como de cumprir a terceira parcela de acordo firmado no dia 11 de dezembro com o MPT-RJ e os sindicatos para o pagamento das rescisões e férias a 469 empregados dispensados.
De acordo com o MPT, os ex-empregados que participaram da audiência informaram que também não receberam passagens terrestres ou aéreas para retornarem às suas cidades, conforme estava previsto no acordo inicial. Eles disseram ainda que estão sendo despejados de seus alojamentos.
Lava Jato
Segundo reportagem do Jornal Nacional, relatórios internos da Petrobras revelam indícios de que os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque interferiam na escolha das empresas que iriam participar da construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e tomaram decisões que aumentaram os custos da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
A comissão interna de apuração da Petrobras constatou que mais da metade desses contratos ficou com as empresas investigadas na Operação Lava Jato. De acordo com depoimentos de funcionários da Petrobras, os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque acompanhavam passo a passo as licitações.

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