quarta-feira, 30 de março de 2016

Inquérito responsabiliza Ampla por mortes de 4 de mesma família no RJ


Cristina BoeckelDo G1 Rio
A delegada titular da 73ª DP (Neves-São Gonçalo), Carla Tavares, indiciará nesta terça-feira (29) a Ampla pelas mortes de quatro pessoas da mesma família que receberam a descarga elétrica de um fio de energia que se rompeu no dia 3 de janeiro. Assim, o presidente, o diretor técnico e o engenheiro responsável pelo local serão responsabilizados pelo crime de homicídio com dolo eventual, que prevê pena de 6 a 20 anos de prisão por cada morte.
"Percebemos, através dos laudos da perícia, que a Ampla incorreu em um erro. Se a cautela tivesse sido observada, possivelmente as vítimas poderiam estar vivas", explicou a delegada.
A Ampla informou em nota que tem convicção de que não tem responsabilidade pelo ocorrido. "A empresa tem apresentado às autoridades todas as evidências que comprovam que a companhia e seus funcionários não são responsáveis pelo acidente", diz a Ampla.
A distribuidora informou que "a perícia não considerou dados fundamentais sobre as causas do acidente e já informados pela companhia à 73ª DP ao longo das investigações", completou a concessionária.
"Na hora do acidente, a Ampla identificou em seu sistema um curto-circuito de grandes proporções, ocasionado pelo impacto da tampa de um freezer na rede nas proximidades do local. O objeto foi lançado em decorrência da explosão de um freezer provocada por terceiros e a companhia tem evidências da rede danificada nesse ponto. A Ampla lamenta o fato de a relação da explosão com o acidente ter não ter sido aprofundada pela perícia", acrescentou a Ampla, afirmando ainda que se solidariza com a dor da família e que não medirá esforços para esclarecer todos os fatos.
As vítimas foram Adão Orlando Silva Morares, de 87 anos, Rafael Sergio Alcântara Oliveira, de 35 anos, e seus filhos Lucas, de 13 anos, e o bebê de apenas 9 meses. Os peritos refutaram a hipótese apresentada pela Ampla de que uma possível explosão na rede tivesse ocasionado a queda do cabo de energia.
"O cabo já estava rompido, com uma emenda, e ele partiu nessa emenda. A explosão foi a cerca de 450 metros de onde o cabo partiu. E mesmo com ela, deveria ter entrado em ação um sistema de proteção da rede", contou o perito criminal Pablo de Souza, que esteve no local.
A falta de eficiência do sistema no combate a uma falha foi considerada preponderante para o desfecho da queda do cabo.
Pai e dois meninos que morreram eletrocutadas em São Gonçalo (Foto: Arquivo Pessoal)Pai e dois meninos que morreram eletrocutados em São Gonçalo (Foto: Arquivo Pessoal)

Quatro pessoas da mesma família morreram eletrocutadas em São Gonçalo (Foto: Arquivo pessoal)Adão, de 87 anos, também morreu no acidente
(Foto: Arquivo pessoal)
"Dois aspectos foram determinantes: o cabo rompeu em condições normais de funcionamento, sem vento, chuva ou quaisquer outros problemas. E os religadores automáticos deixaram os cabos energizados por ainda quatro minutos, o que foi suficiente para que ocorresse uma tragedia", explicou o perito Leandro Terra, que lembrou que a rede que atingiu o carro da família é de 13.8 kv (kilivolts).
A delegada conta que os depoimentos das testemunhas das mortes da família foram decisivos para o esclarecimento do que aconteceu. Segundo ela, as memórias de Maria de Nazaré, esposa de Adão, a única sobrevivente do choque, eram apenas de flashes, já que ela gritou e desmaiou após a morte da família.
"O cabo se rompeu por uma falha de manutenção. Ele ficou rompido no solo. Ele deveria ser imediatamente desligado. Mas o que aconteceu é que ele foi desligado e religado várias vezes em sequência, o que levou as vítimas a óbito", lembrou a delegada.
Delegada e peritos falaram sobre inquérito nesta terça-feira (29), em São Gonçalo (Foto: Cristina Boeckel/G1)Delegada Caarla Tavares e peritos falam sobre o
inquérito (Foto: Cristina Boeckel/G1)
A delegada Carla Tavares ainda avalia possíveis agravantes no caso, como a demora no desligamento da rede teria causado atraso no socorro às vítimas, já que o local estava energizado.
O inquérito ainda será encaminhado ao Ministério Público, que avaliará se será feita uma denúncia à Justiça.
Mais quatro mortes
A delegada acrescentou ainda que outros dois casos com dinâmica semelhante ocorreram em áreas cobertas pela Ampla desde então. Em 8 de fevereiro, duas pessoas morreram eletrocutadas em uma moto atingida por um fio de alta tensão em Araruama. No dia 20 do mesmo mês, mãe e filho morreram ao pisarem em um fio em Rio Bonito.

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