Após o relato da tentativa de estupro que aconteceu dento do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória, estudantes se reuniram para falar sobre o medo que sentem ao circular pela universidade à noite e propor ações para resolver o problema.
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No dia 18 de abril, uma segunda-feira, a estudante de cinema Raquel Rocha, de 28 anos, sofreu uma tentativa de estupro dentro do campus.
“Era um homem novo, por volta de 20 anos. Ele me agarrou e me arrastou. Eu mantive a calma e tentei conversar com ele. Enquanto me segurava forte pelo braços, me falava coisas horríveis, nojentas, que não quero nem lembrar. Ele tentou me levar para as árvores, onde é ainda mais escuro. No começo eu pensei que fosse um assalto, mas depois ele falou que queria me violentar mesmo, que era para eu ir com ele, que ele ia fazer várias coisas. Comecei a ficar nervosa”, disse emocionada a jovem.
Na quarta-feira (20), um grupo de alunas realizou uma reunião para discutir o assunto. Na ocasião, as jovens relataram os casos de insegurança dentro da universidade e relembraram outros casos, como o de Rayanne Abrante, que contou ter sido abusada por um vigilante da Ufes.
“A sensação é de impunidade”. Esse é o sentimento da jovem Rayanne. Ela disse ao G1 que após cinco meses, nada mudou e não tem respostas da polícia sobre o caso.
Reunião
A estudante do sexto período de publicidade Tereza Dantas foi uma das responsáveis por convocar a reunião. "A gente combinou de fazer uma plenária de mulheres, estudantes e pessoas que frequentam a Ufes regularmente, para discutir e tentar tirar alguns posicionamentos da questão da iluminação, da falta de segurança e da violência contra a mulher que está ocorrendo aqui dentro da Ufes", afirmou a jovem.
A estudante do sexto período de publicidade Tereza Dantas foi uma das responsáveis por convocar a reunião. "A gente combinou de fazer uma plenária de mulheres, estudantes e pessoas que frequentam a Ufes regularmente, para discutir e tentar tirar alguns posicionamentos da questão da iluminação, da falta de segurança e da violência contra a mulher que está ocorrendo aqui dentro da Ufes", afirmou a jovem.
Tereza, que estuda há três anos na instituição, disse que se sente impotente com a situação. "É um sentimento de impotência, porque às vezes eu me sinto impotente em relação ao que fazer dentro da universidade para melhorar essa situação. Por isso que eu estou tentando juntar mais meninas que vivam aqui e que passam por essa experiência para a gente tentar tirar alguns posicionamentos e trocar experiências sobre o que a gente passa dentro da Universidade", pontuou.
Para a jovem, entre as alternativas para solucionar o problema estão a melhoria da iluminação e o aumento do número de guardas noturnos. "Acho que se a administração colocasse mais iluminação pela Ufes seria mais seguro. Mesmo que o guarda seja patrimonial, causa uma ideia de segurança, porque tem mais gente vendo o que está acontecendo. Então ele pode inibir alguém de chegar até nós. Mais guardas patrimoniais seria um caminho", afirmou.
Durante a plenária, as estudantes levantaram a discussão sobre a violência contra a mulher. "Precisamos cobrar um posicionamento da reitoria, podemos propor a criação de um espaço para esse tipo de debate dentro da Reitoria", afirmou uma estudante durante a reunião.
Entre as definições propostas pelas alunas estão os debates sobre a segurança dentro do Campus, contratação de uma segurança especializada e humanizada em questões universitárias e a criação de uma secretaria de mulheres dentro da Ufes.
Além disso, foi feita a proposta de conectar o debate de Goiabeiras com outros campi da universidade, para unir forças e coletivizar o debate sobre segurança e violência.
Maruípe
Embora exista um grande número de relatos de insegurança no campus de Goiabeiras, estudantes do campus de Maruípe, onde concentram os cursos de Ciências da Saúde, também relataram insegurança.
Embora exista um grande número de relatos de insegurança no campus de Goiabeiras, estudantes do campus de Maruípe, onde concentram os cursos de Ciências da Saúde, também relataram insegurança.
Aluna do oitavo período de Terapia Ocupacional, Jéssica Lopes, afirma que não há iluminação durante a noite no campus de Maruípe.
"Em Maruípe, desde que eu entrei em 2012, não existe iluminação direito do meu prédio, de Terapia Ocupacional, até o portão principal. E isso afeta outros cursos que têm outros departamentos nesse caminho", disse.
Jéssica explica que não há movimentação à noite na universidade, mas que projetos de extensão formado apenas por mulheres têm dificuldade para continuar existindo.
"O meu curso tem um projeto de extensão que funciona à noite, no período de 17h às 20h, e que antes tinha pelo menos um guardinha, ficava alguns auxiliares administrativos. Agora não existe mais isso. Com esse corte de verbas, não tem mais funcionário nesse horário. Além disso, não tem iluminação. Então é complicado, porque o projeto é um grupo de estudos está correndo risco de ser extinto, por causa disso", pontuou.
Segundo Jéssica, relatos de assaltos e assédio são constantes no campus. "Assalto dentro do campus dentro e fora. Assédio também por pessoas não identificadas. A região de Maruípe é muito abandonada, é uma região hospitalar, e aí não pode fazer barulho, tem muitas restrições. Por isso é uma região bastante abandonada", completou.
“As meninas precisam desenvolver estratégias para irem para aula"
O medo faz com que as estudantes criem alternativas para poderem ir para a aula. Rayanne Abrante, de 23 anos, que relatou ter sido abusada por um vigilante dentro do campus de Goiabeiras da Ufes, em 2015, é uma dessas estudantes.
O medo faz com que as estudantes criem alternativas para poderem ir para a aula. Rayanne Abrante, de 23 anos, que relatou ter sido abusada por um vigilante dentro do campus de Goiabeiras da Ufes, em 2015, é uma dessas estudantes.
“As meninas precisam se articular, desenvolver estratégias para irem para aula. Isso é um absurdo. As autoridades precisam mudar essa realidade. A Ufes deveria ser um lugar seguro para todos”, afirmou.
A estudante de publicidade Tereza Dantas também elabora estratégias para ir às aulas à noite. "A gente sempre tenta andar mais de duas, nunca sozinha. Isso talvez nem proteja a gente de acontecer alguma coisa, mas dá mais segurança andar junto e tentar conversar com as pessoas enquanto você está caminhando, sempre procurar lugares mais movimentados", disse.
Pontos sem iluminação
O G1 refez o percurso que os estudantes fazem para irem às aulas noturnas no campus de Goiabeiras. Por volta das 20h30, a reportagem caminhou próximo à Biblioteca Central, no caminho que dá acesso aos Centros de Ciências Jurídicas e Econômicas, e no Centro de Artes, onde aconteceu a tentativa de estupro do dia 18 de abril.
O G1 refez o percurso que os estudantes fazem para irem às aulas noturnas no campus de Goiabeiras. Por volta das 20h30, a reportagem caminhou próximo à Biblioteca Central, no caminho que dá acesso aos Centros de Ciências Jurídicas e Econômicas, e no Centro de Artes, onde aconteceu a tentativa de estupro do dia 18 de abril.
Nesses locais, era possível observar a escuridão relatada pelas estudantes. Nesses espaços há pouca circulação e permanência de pessoas. Por esse motivo, a sensação de passar por lá é de medo. No percurso, a reportagem não encontrou nenhum guarda patrimonial.
Outro lado
Sobre as reclamações de insegurança, a Ufes informou que a vice-reitora Ethel Maciel vai convocar a Comissão de Segurança, criada em 2016, para apontar possíveis soluções que evitem novos incidentes como o registrado no dia 18 de abril.
Sobre as reclamações de insegurança, a Ufes informou que a vice-reitora Ethel Maciel vai convocar a Comissão de Segurança, criada em 2016, para apontar possíveis soluções que evitem novos incidentes como o registrado no dia 18 de abril.
"Uma das medidas apontadas pela vice-reitora é a ampliação dos pontos de iluminação e incremento no sistema de videomonitoramento. Outra medida é ampliar o monitoramento dos acessos aos campi, pois os portões que ficam abertos diariamente das 5h30 horas às 23h30", disse a universidade.
A respeito do número de vigilantes no campus de Goiabeiras, a Ufes informou que conta com vigilantes armados próprios e terceirizados, além de um sistema de 415 câmeras que funcionam por 24 horas.
Em caso de movimentação suspeita, vigilantes que rondam o campus são acionados. Caso seja necessário, como ocorreu no dia 18 de abril, é solicitado o reforço da Polícia Militar, que atende à universidade.
"A parceria com as polícias Militar e Civil pode até ser ampliada, a depender os encaminhamentos da Comissão de Segurança, que é composta por membros da administração, professores, servidores e estudantes", completou.
Questionada sobre as cancelas das entradas principais do campus, que não emitem nenhum ticket e não possuem guardas, a Ufes informou que em cada cancela há uma câmera de segurança.
"As cancelas provocam a redução da velocidade dos veículos que entram no campus e permitem a identificação dos mesmos pelas câmeras. Desta forma, a entrada e saída de veículos é registrada pelas câmeras", finalizou.
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