terça-feira, 16 de maio de 2017

À espera por UTI, vendedora de 29 anos morre dentro de PA em Vitória

Foto: Arquivo Pessoal
À espera de uma vaga de UTI, a vendedora Kamila Maria Loureiro, 29 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (15), no Pronto Atendimento da Praia do Suá, em Vitória. Segundo a família, a causa da morte da jovem foi uma pneumonia. Revoltada com a perda da filha, que deixa uma menina de 4 anos, a aposentada Kátia Loureiro Marques, 61, relatou ao Gazeta Online o drama que viveu nos últimos dias.
Kamila estava a passeio em Saquarema, no Rio de Janeiro, e voltou para Vitória na última quinta-feira (11) já passando mal. Da rodoviária da Capital, a mãe levou a filha direto para o PA.
"Ela ficou lá 4 dias, e eu pedindo pelo amor de Deus para transferi-la. Nem o remédio para combater a bactéria tinha. Um médico me disse que ela estava muito mal e falou: 'Reza'"
Segundo a mãe, foram quatro dias de desespero. "Fiquei naquele banco sentada com minha neta de 4 anos porque não tinha com quem deixá-la. Quando eu ia para casa, minha filha me pedia socorro pelo Facebook".
Ainda de acordo com a mãe, a jovem estava sentada em uma cadeira comum de plástico. "O pulmão dela doía, e ela ficava envergada. Tinha falta de ar. Só no terceiro dia que botaram oxigênio e a colocaram em uma maca, em um quarto, que era de isolamento. Minha filha morreu por falta de socorro naquele PA. Infelizmente, eu cancelei o meu plano de saúde porque não tinha condições de continuar pagando", desabafa.
Sem saber o que fazer para tentar conseguir atendimento para Kamila, a mãe diz que pediu um laudo no local para ir ao Ministério Público na sexta-feira (12). "Eu pedi o laudo pela manhã, mas só às 17h30 a assistente social me deu, quando já estava tudo fechado."
No domingo, a vendedora piorou muito. "Ela estava delirando. Da cintura para baixo, gelada. Da cintura para cima, quente. Na noite que ela faleceu, surgiu a vaga na UTI. Mas depois diziam que a vaga sumia da tela. Por volta das 22 horas, falaram que ela não ia poder ir mais naquele dia. Eles já sabiam que ela ia morrer", acredita a mãe.
Kamila deixa filha de 4 anos
Kamila deixa filha de 4 anos
Foto: Arquivo Pessoal
Mas, como a transferência para uma UTI de Colatina ocorreria no dia seguinte, na segunda-feira (15), a mãe foi em casa tomar um banho e pegar algumas roupas para voltar ao PA. Mas 15 minutos depois, recebeu uma ligação. "Uma mulher disse que era para eu voltar porque tinha acontecido alguma coisa com a minha filha. Lá, eles me disseram que ela não resistiu", lembra Kátia.
O irmão mais velho de Kamila, o educador social Felipe Soares Loureiro afirma que, além de triste, está muito decepcionado. "A luta para tentar conseguir uma vaga para a Kamila foi muito grande. Ela era muito conhecida e querida. Quase não cabia de tanta gente no velório dela no cemitério de Santo Antônio. Todo mundo está muito frustrado. E conseguirem a vaga poucas horas antes dela morrer... O nosso sentimento é que isso foi mais uma desculpa", desabafa.
OUTRO LADO
Por meio de nota, a Secretaria Municipal Saúde de Vitória (Semus) informou que a paciente deu entrada no Pronto Atendimento (PA) da Praia do Suá no dia 11 de maio apresentando quadro de insuficiência respiratória. Com o agravamento do quadro clínico foi constatada a necessidade de solicitação de vaga em UTI por meio da Central de Vagas da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e todos os procedimentos para a solicitação de vaga e transferência da paciente foram feitos. A Semus ressalta que todas as providências necessárias que eram de competência do município foram adotadas e acrescenta que a causa do óbito é investigada.
"A paciente ficou em leito de isolamento respiratório e durante todo o tempo monitorada pela equipe. Quando o caso se agravou, foi levada para a sala de emergência e todos os procedimentos necessários foram feitos. A Semus lembra que o Ministério Público, possui plantão judiciário para demandas urgentes fora do horário de expediente. A direção do Pronto Atendimento da Praia do Suá continua à disposição dos familiares para qualquer esclarecimento", acrescentou a Semus por meio de nota.
Também acionada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) respondeu que "a vaga de acordo com o perfil clínico da paciente foi providenciada mas, lamentavelmente, a paciente foi a óbito antes da transferência ser realizada". Ainda de acordo com a secretaria, "é feito um trabalho para ampliar o acesso aos serviços de saúde. Já foram abertos 262 leitos e serão abertos 220 novos leitos no próximo ano. A busca pelos leitos é feita primeiramente na rede própria, depois na filantrópica e, por fim, na rede particular, em qualquer município do Estado".

Um comentário:

  1. os caras tem a coragem de dar explicaçoes. Queria ver se Paulo hartung iria ficar 04 dias numa cadeira e numa maca de um PA .

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