terça-feira, 23 de setembro de 2014

Comandante da PM-RJ quer ouvir oficiais sobre denúncias de corrupção


MP quer que patrimônio do comandante seja conferido pela Corregedoria.
Delator disse que Estado-Maior recebia repasse semanal de propinas.

Do G1 Rio
O comandante-geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel José Luís Castro Menezes, anunciou nesta terça-feira (23) que determinou a abertura de um inquérito policial militar e que irá convocar todos os comandantes e representantes do Estado-Maior da corporação para prestarem esclarecimentos sobre as denúncias acerca de um suposto esquema de pagamento de propina.

O comunicado do comandante geral foi divulgado depois de Ministério Público pedir à Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Segurança que instaure uma sindicância para apurar o patrimônio dele. Em nota, o coronel afirmou que, caso seja instaurada a sindicância patrimonial, está totalmente à disposição para apresentar todos os documentos necessários para esclarecimentos de qualquer dúvida que seja levantada sobre esta questão.

O suposto esquema criminoso veio à tona depois de realizada a operação Propina S.A deflagrada, no dia 15 de setembro. Ao todo, 25 pessoas foram presas, entre elas 24 policiais militares. Todos os PMs presos são acusados de cobrar propina de moradores e comerciantes na Zona Oeste do Rio.
O pedido do Ministério Público à Secretaria de Segurança foi feito depois que o RJTV revelou 
com
 exclusividade, na segunda-feira (22), o teor do depoimento de um ex-PM, que delatou um suposto esquema de distribuição de propinas.
O ex-PM prestou dois depoimentos, nos dias 15 e 16 de setembro. Ele disse que começou  a participar do esquema de cobrança de propina em 2010, quando trabalhava na Unidade de trânsito no batalhão de Itaguaí.

Segundo o depoimento, ele e outros PMs tinham a função de arrecadar semanalmente propina para alguns oficiais do batalhão e que a propina era oriunda de acertos com cooperativas de vans, motoristas e proprietários de ônibus piratas.
O PM contou aos promotores que ele e outro policial arrecadavam, em média, R$ 7 mil por semana em propina. Os dois ficavam com R$ 1 mil e o restante era entregue semanalmentenas mãos do capitão Walter Colchone Neto.
Mudanças de equipes
O batalhão de Itaguaí nesse período era comandado pelo coronel Alexandre Fontenelle. O policial declarou que em setembro ou outubro de 2010 toda a equipe foi removida para o batalhão de Irajá, pois o coronel Fontenelle tinha assumido o comando daquela unidade.
No depoimento, o policial revelou  que na época a maior parte da propina para os oficiais vinha das equipes de trânsito e que os policias desta equipe diziam arrecadar semanalmente entre R$ 15 mil e R$ 18 mil. De acordo com o PM,  R$ 750 ficavam com os praças da equipe.
Ele disse também que soube por meio de outros policiais que os oficiais do batalhão comandado pelo coronel Fontenelle recebiam semanalmente uma quantia do tráfico de drogas. Somente a favela de Acarí, de acordo com o policial, pagava R$ 20 mil.
Nos dois depoimentos, que somam 15 páginas, o policial diz que mais de uma vez teve acessoà informação de que o dinheiro da propina ia parar nas mãos do Estado Maior: a alta cúpula da PM. numa dessas ocasiões, oficiais teriam confirmado a ele o pagamento.
O PM disse que soube da informação do repasse de propina para o estado maior pelo major Edson e pelo major Neto, de maneira reservada, em mais de uma ocasião. Nesta época, o major Edson Alexandre Pinto de Góes também fazia parte do comando do Batalhão de Irajá.
O policial afirmou também que já ouviu dizer, não por oficiais, que naquela época todos os batalhões eram obrigados a repassar a quantia de R$ 15 mil para o Estado Maior da Polícia Militar, localizado no Quartel General da PM. Mas não especifica o período em que ocorreu, segundo ele, o pagamento de propinas.
O policial disse que o único período em que não ouviu falar de repasse de dinheiro para o estado mair foi quando a instituição foi comandada pelo coronel Erir da Costa Filho - entre setembro de 2011 e agosto de 2013.
Dinheiro do tráfico
O PM contou aos promotores que em 2012 foi transferido juntamente com o major Edson para o Batalhão de Bangu, onde já estava o coronel Fontenelle. Lá, uma vez por semana, de acordo com o depoimento, era chamado pelo major Edson para receber quantias que variavam entre R$ 7,5 mil e R$ 13 mil para depositar na conta pessoal do próprio major.
O delator destacou ainda aos promotores acreditar que o dinheiro vinha do tráfico de drogas por causa do forte cheiro de maconha nas cédulas.
No depoimento, o PM faz referência ainda ao período em que o coronel Alexandre Fontenelle já era o responsável pelo Comando de Operações Especiais.
O capitão Walter Colchone tinha sido preso acusado de ser chefe de segurança do jogo do bicho. O policial disse que causou perplexidade a ele e a tropa do décimo quarto batalhão - de Bangu - o fato de, depois de solto, Colchone ter sido lotado no Comando de Operações Especais, comandado pelo coronel Fontenelle.
Na semana passada, o capitão Colchone, o coronel Fontenelle e outros 22 policiais militares foram presos na operação Amigos S/A, acusados de cobrar propina de comerciantes da região de Bangu.
O juiz responsável pelo caso disse que o depoimento dado pelo policial confirmou a identificação dos suspeitos e ajudou a entender como funcionava a divisão de tarefas e hierarquias do grupo.
Com a delação premiada, o policial ganhou o direito de responder em liberdade ao processo  e pode ter a pena reduzida, em caso de condenação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário