terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Coronel é denunciado pelo MP por venda ilegal de munição no ES



De A Gazeta
Comandante da PM, Ronalt Willian, disse que denúncias feitas por parte do coronel Gonçalves serão apuradas (Foto: Reprodução/TV Gazeta)Ronalt Willian foi denunciado pelo MP
(Foto: Reprodução/TV Gazeta)
O coronel e ex-comandante-geral da Polícia Militar Ronalt Willian foi denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por suspeita de venda ilegal de munições. Além de Ronalt, o ex-soldado Frank Silva Grazziotti também foi incluído na denúncia, suspeito de comercializar as munições. 
Procurado pela reportagem, o coronel afirmou que as munições em questão eram de uso pessoal e não da Polícia Militar. Ele afirmou ainda que as cápsulas eram velhas e só serviriam para treinamento de tiro de policiais, que seriam seus compradores alvos.
Denúncia
De acordo com o MPES, o fato teria acontecido nos meses de janeiro e fevereiro de 2008, mas a denúncia só foi oferecida pelo órgão em dezembro de 2015.
Na época, ainda tenente-coronel, Willian era comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar e teria pedido indicação de  um policial que pudesse ser o responsável pela comercialização, momento em que chegou ao nome de Frank.
As suspeitas contra o coronel e o soldado surgiram durante uma investigação denominada “Dom Pedro II”, realizada pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc).
Na época, o órgão havia instalado, com autorização da Justiça, escutas telefônicas para monitorar a atividade de traficantes da Ilha do Príncipe, em Vitória.
Durante a investigação, o soldado Frank passou a ser alvo, visto que mantinha contato frequente com um traficante chamado Luciano. Em uma das conversas interceptadas, narrada na denúncia, um dos traficantes marca um encontro com o soldado, após solicitar uma caixa de munições calibre 38, no dia 18 de janeiro daquele ano.
Depois, em 15 de fevereiro de 2008, o Nuroc interceptou uma ligação do coronel Willian  para Frank, perguntando quantas caixas de munição calibre 22 ele ainda tinha.
Após receber a resposta de que ainda haviam quatro caixas com o soldado, o coronel afirma que teria descoberto um “camarada” e veria se essa pessoa poderia pegar.
A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público no dia 1º de dezembro de 2015. O órgão afirma que tanto o coronel, quanto o soldado, teriam infringido o artigo 17 do Estatuto do Desarmamento, que estipula reclusão de 4 a 8 anos para quem vende munição sem autorização.
Situação
Frank Grazziotti não é mais soldado da Polícia Militar. Já o coronel faz parte do quadro de  reservistas da corporação.
Segundo o Tribunal de Justiça do estado, a denúncia ainda não foi acatada por nenhum juiz, mas o inquérito está sendo acompanhado.
PM não se aprofunda sobre situação
Como a denúncia do Ministério Público informa que os supostos delitos teriam sido cometidos quando o coronel e o ex-soldado ainda faziam parte dos quadros da Polícia Militar, a corporação foi procurada para falar sobre o caso.
A assessoria  de comunicação da Polícia Militar, por meio de nota, informou que o coronel   Ronalt Willian de Oliveira foi transferido para a reserva remunerada a contar de 12/11/2013.
A Corporação ainda ressaltou que todas as medidas administrativas e disciplinares foram adotadas à ocasião. Porém, não detalhou quais foram essas medidas, nem os resultados delas.
A Polícia Militar também afirmou que o Ministério Público apura a responsabilidade em âmbito criminal e o caso segue na esfera judiciária.
Sobre o soldado Frank Silva Grazziotti, a assessoria confirmou que ele foi excluído dos quadros da Corporação no ano de 2010 por má conduta. Porém, também não detalhou qual seria essa situação que levou à expulsão.
O que o Ministério Público pede à Justiça na denúncia:
- Que o coronel   Ronalt    Willian  e o ex-soldado da Polícia Militar Frank Silva Grazziotti respondam pelos artigos 17 e 20 do Estatuto do Desarmamento;
Artigo 17: adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou   de  qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício   de  atividade comercial ou industrial, arma   de  fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
- Caso a denúncia se transforme em um processo e em caso de condenação, a pena é de  4 a 8 anos de prisão;
Artigo 20: a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos   de  segurança;
Ligação interceptada pelo Nuroc
Narração de um trecho da gravação:
CEL WILLIAN  liga para FRANK e pergunta quantas “caixas   de  ponto 22” que FRANK tem “lá”;
FRANK responde que “tá em casa”.
CEL   WILLIAN  insiste na pergunta da quantidade.
FRANK então responde que tem “quatro”.
CEL   WILLIAN  diz que é só para saber, pois tem um “camarada” que ele descobriu e vai ver se ele “pega”.
FRANK fala para o CEL   WILLIAN  que já foi duas vezes levar o dinheiro, mas o CEL não apareceu “aí”.
CEL   WILLIAN  diz que fica “aqui” direto.
FRANK fala que só não foi levar o dinheiro na casa do CEL   WILLIAN  porque ele não sabe onde que é."
Outro lado                                 
Segundo o coronel, ele tinha umas munições velhas em casa e perguntou ao seu motorista se ele conhecia policiais que gostariam de ter essas munições para treinamento de tiro.
“O meu motorista me indicou o soldado Frank e passou as munições para ele, a meu pedido, pois o soldado teria amigos PMs interessados em comprar. Não lembro quanto cobrei, mas era um valor baixo e simbólico, já que as munições eram velhas e só serviriam para treinamentos, não para confrontos”.
Ele contou que ficou surpreso ao ser procurado pelo Ministério Público. “Me procuraram falando que eu fui pego em escutas telefônicas por estar vendendo munição para bandido.
Então liguei pra o Frank e pedi as munições   de  volta. Pra ele não desconfiar, pedi pra me devolver para eu mesmo vender. Eu não sabia que o Frank vendia para bandidos.

Ele foi expulso da polícia e eu caí do cavalo ao saber. Me coloco à disposição para esclarecer qualquer dúvida, pois não tenho ligação nenhuma com venda ilegal de  munições”.

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