Rio -  O velório do humorista Chico Anysio é realizado no Theatro Municipal, no Centro, na manhã deste sábado. Na parte da manhã, a cerimônia será restrita a amigos e familiares mas, a partir de 12h, os admiradores de Chico poderão prestar sua homenagem. Os filhos do humorista Bruno Mazzeo e Nizo Neto estão entre os primeiros a chegar, assim como a atriz Glória Pires, o cantor Elymar Santos e a atriz Marília Pêra.
Marília Perâ | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
Marília Perâ se emocionou ao falar do amigo | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
"Ele é um grande amigo, extremamente generoso, tenho três quadros pintados por ele. Ele e o Paulo Autran foram dois gênios. Acho impressionante a capacidade que ele tinha de fazer várias coisas e bem feitas", afirmou Marília Pêra.
Elymar se emocionou ao falar do amigo e não poupou elogios. "Ele era como o Chaplin. Muito mais que o talento, a marca dele era a generosidade. Ele dava oportunidade para novos artistas", disse.
De acordo com o advogado da família, Paulo César Pimpa, o corpo de Chico será cremado no domingo, no Cemitério do Caju, na Zona Portuária. Ainda não há informações sobre o horário.
Nizo Neto e Bruno Mazzeo chegam ao velório do humorista no Theatro Municipal | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
Nizo Neto e Bruno Mazzeo chegam ao velório do humorista no Theatro Municipal | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
Elymar Santos foi se despedir do amigo | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
Elymar Santos foi se despedir do amigo | Foto: Jeferson Ribeiro/ AgNews
Humorista 'arretado'
Chico Anysio se orgulhava de ser nordestino arretado e de não fugir à luta jamais. Além do gênio criativo, o humorista tinha talento nato para dar declarações polêmicas. Ele nunca teve medo de falar o que pensava e pagou caro algumas vezes por isso. Na TV Globo, após a saída de José Bonifácio de Oliveira (Boni), que foi vice-presidente de Operações da emissora, em 1998, o humorista foi perdendo espaço na programação e acabou botando a boca no trombone, criticando o excesso de jovens e a condução artística da emissora. Nos anos 2000, as queixas de Chico não repercutiram bem, ele brigou com a então diretora geral Marluce Dias da Silva e foi punido.
Chico também se gabava de fazer crítica social, com personagens como o político corrupto Justo Veríssimo e a gaúcha Salomé, que conversava ao telefone com o então presidente João Batista Figueiredo e criticava o governo dos militares. “Eu sempre defendi o pobre, o preto, o nordestino, o retirante, o mendigo, o preso e o esfarrapado. Então, rico, nos meus programas, sempre fez papéis ridículos, nunca fiz um rico que se desse bem”, disse. Quando falava de política, ele também não tinha papas na língua: “No Brasil de hoje, os cidadãos têm medo do futuro. Os políticos têm medo do passado”.
Frases inesquecíveis

Outra característica de Chico Anysio era o talento para criar frases inesquecíveis. “O brasileiro só tem três problemas: café, almoço e jantar”, disse ele, fazendo crítica social. Casado seis vezes, o humorista também fez reflexão sobre relacionamentos e filhos: “Tem coisa que não se discute: filhos detonam qualquer casamento. São maravilhosos, mas fatais”. Sobre a morte, ele dizia que pensava menos nela do que ela pensava nele: “Não tenho medo de morrer, tenho pena”.
Música, literatura e artes plásticas
Além de se dedicar ao humor, Chico Anysio foi escritor, artista plástico, compositor e ainda atuou no cinema. Apaixonado por pintura, ele retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que tirava dos países que visitava. Seus quadros foram expostos em diversas galerias do País. Ele chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo à atividade, aprender as técnicas e ficar mais conhecido, para poder vender seus quadros por um preço melhor.
Chico foi autor de 21 livros, entre eles os best-sellers: ‘O Batizado da Vaca’, ‘O Telefone Amarelo’, ‘O Enterro do Anão’, ‘É Mentira, Terta?’ e o romance ‘Carapau’. Sua última publicação foi ‘O Canalha’, lançada em 2000. Ele também compôs várias músicas, muitas delas registradas por Dolores Duran. Gravou mais de 20 discos. Com Arnaud Rodrigues, formou a dupla Baianos e Novos Caetanos, com a qual também lançou disco.
No cinema, Chico fez ‘Tieta’ (1996) e uma participação especial em ‘Se Eu Fosse Você 2’ (2008), recordista de bilheteria. Seu último trabalho foi como dublador na animação ‘Up — Altas Aventuras’.
Um mestre muito amado
Referência para todos os humoristas desde que apareceu no rádio, Chico Anysio sempre abriu portas e deu oportunidades para novas figuras. Como apontam seus pupilos, ele é, sem dúvida, o grande mestre do humor brasileiro. “Ele me inventou, me ensinou tudo e me legitimou: ‘Vai que vai dar certo’. Chico não precisava mais trabalhar se quisesse, mas dizia: ‘O que vou fazer com a velha guarda do humor? Tenho que dar emprego para essas pessoas”, se emociona Claudia Jimenez, a Cacilda da ‘Escolinha’.
Da mesma turma, Orlando Drummond (o Seu Peru) espera que os filhos de Chico honrem seu nome. “Perdemos o maior humorista que o Brasil já teve. Agora, os filhos do Chico, que têm talentos imensos, continuarão levando o nome dele adiante”, torce.
Nora de Chico, Heloísa Périssé lembrou sua autenticidade. “Sempre falou o que pensava, não tinha máscara”, relembra. Mais que colega de trabalho, Lúcio Mauro se emociona ao lembrar do amigo: “Não sei se vamos ter força para substituir ou deixar viva essa alma do humor. Começamos a fazer um tipo de humor diferente, com muitas críticas”.
Chico foi responsável por lapidar Tom Cavalcante, que lamentou no Twitter: “Meu Deus. Nosso Chico se foi”. Conterrâneo, Renato Aragão chorou a morte do amigo. “Era um multitalento. O Chico fez centenas de personagens, nem ele saberia definir o melhor. Gostava muito do Coalhada. Pensava: ‘Como ele consegue fazer um personagem vesgo o tempo todo?’ É talento demais!”.Fonte :O Dia