sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Viúva de Amarildo responde por abandono de incapaz no Rio


Esposa e filhos de Amarildo também participam do protesto na Rocinha  (Foto: Cristiane Cardoso/G1)Esposa de Amarildo ao lado do filho
(Foto: Cristiane Cardoso/G1)
A viúva do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido na Rocinha desde 2013, vai responder na Justiça por abandono de incapaz. Na quinta-feira (3), Elizabeth Gomes da Silva foi notificada pela Vara da Infância e da Juventude por seu filho Anderson Dias ter trabalhado como flanelinha na Zona Sul do Rio, em 2005. Ela tem 10 dias para apresentar defesa.
O processo contra Elizabeth foi proposto naquele ano, mas foi extinto sem julgamento, em 2009. O Ministério Público recorreu e o Tribunal de Justiça mandou a ação ser continuada em 2010 e somente agora a mulher foi citada.
Anderson teria trabalhado com o tio como flanelinha, quando tinha 14 anos. Hoje, com 24, ele trabalha como modelo.
O G1 não conseguiu entrar em contato com Elisabeth para falar sobre o caso.

MP reabre inquérito
O Ministério Público reabriu investigação para saber o que o Bope estava fazendo na Rocinha na noite em que o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu, em 14 de julho de 2013, após ter acesso e analisar novas imagens de uma câmera de segurança instalada nas proximidades da UPP da comunidade. Dez homens da corporação são investigados.
As imagens foram gravadas na noite de 14 de julho de 2013, quase cinco horas depois de o pedreiro Amarildo ter sido levado para a sede da UPP na Rocinha. A câmera fica num ponto estratégico da rua que é o único acesso para que carros cheguem à sede da UPP. As imagens mostram que relógio marca 23h59, quando chega um comboio com quatro caminhonetes do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
As imagens mostram que a primeira e a segunda caminhonete do Bope chegam sem ninguém na caçamba. Só a terceira e a quarta caminhonetes têm policias armados na parte traseira. Cada uma, com dois homens.
Quando o comboio acaba de entrar, ainda não é meia-noite. Os promotores descobriram que todas as quatro caminhonetes passaram pelo local com os GPS ligados. Na sede da UPP, no entanto, o equipamento de um dos carros parou de funcionar à 0h24. Doze minutos depois, essa mesma caminhonete vai embora com o GPS desligado.
À 0h36, duas caminhonetes do Bope deixam a UPP. Na primeira, há dois policiais em pé e um sentado. Em seguida, sai o carro em que o equipamento de localização por satélite não funciona. Neste, a caçamba está mais cheia. São dois policiais em pé, um agachado e outro, do lado direito, sentado, com a perna para fora.
As imagens levantaram suspeitas no MP. Os peritos, no entanto, só confirmaram a suspeita quando trataram as imagens no computador as imagens da câmera de segurança. Eles usaram variações de luz e sombra, que são elementos básicos para revelar o volume e a profundidade de objetos.
RJ Amarildo (Foto: Reprodução/GloboNews)RJ Amarildo (Foto: Reprodução/GloboNews)
Entenda o caso
O caso envolvendo o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza começou no dia 14 de julho de 2013. Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha estavam atrás dele, pois achavam que Amarildo sabia onde os traficantes guardavam armas e drogas.
Eles levaram Amarildo, primeiro, até uma das bases da UPP, na parte baixa favela. Uma câmera registrou a última imagem dele: passava das 19h. Amarildo entrou num carro da PM, que subiu para a sede da UPP, no alto do morro.
O então comandante da unidade, major Edson Santos, sempre disse que Amarildo foi ouvido por poucos minutos e que depois saiu de lá a pé, sozinho. Mas a Polícia Civil e o MP não tiveram dúvidas que o major mentiu.

A conclusão dos investigadores, em outubro do mesmo ano, foi de que a tortura aconteceu atrás dos contêineres da UPP. O ajudante de pedreiro recebeu descargas elétricas, foi sufocado com sacos plásticos e afogado num balde por quase duas horas.
Vinte e cinco policiais militares foram denunciados por tortura seguida de morte. O então comandante da UPP, Major Edson Santos, quatro PMs que participaram diretamente da violência, 12 que ficaram de vigia e 8 que estavam dentro dos contêineres e não fizeram nada pra impedir o crime.
PMs que colaboraram com as investigações contaram que o major estava em um dos contêineres e que era possível ouvir gritos. Quando os gritos pararam, segundo eles, um policial entrou num almoxarifado e pegou uma capa de moto preta. Os promotores afirmaram que o corpo foi enrolado nessa capa.
Dos 25 réus, 16 também respondem por ocultação de cadáver. A polícia civil fez várias buscas na mata, mas nunca conseguiu encontrar o corpo de Amarildo de Souza.

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