quinta-feira, 9 de abril de 2015

Laudo diz que tiro que matou Eduardo é de fuzil; PMs estão de licença


Policiais admitiram que fizeram disparos no dia da morte do menino.
Eduardo morreu baleado no Alemão, no Rio, na última quinta (2).

Do G1 Rio
Entrevista com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, mostram foto da criança (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)
Um laudo feito por peritos da Polícia Civil do Rio confirma que o menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, morto na quinta-feira (2) no Conjunto de Favelas do Alemão saiu de um fuzil, como mostrou o RJTV desta quarta (8).
A informação já tinha aparecido em relatos de testemunhas, mas agora foi confirmada num laudo. 
Dois policiais militares que confirmam que fizeram disparos de fuzil perto do local onde o estudante foi morto estão de licença médica, supostamente abalados pelo disparo que matou o menino. Eles atuam em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
De acordo com o jornal O Globo, após admitir em depoimento que pode ser o autor do tiro, um dos PMs chegou a ser internado no Hospital Central da PM, com sintomas de um surto psicótico.
Um dos agentes afirma que efetuou disparos após uma queda, e outro admite que fez três disparos. Os soldados da UPP serviam de guias para homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Segundo a mãe de Eduardo, após a morte do menino, um dos policiais envolvidos chegou a apontar a arma para ela.
“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, contou Terezinha Maria de Jesus na semana passada.
Segundo a corregedoria da PM, um inquérito policial militar foi aberto para apurar as circunstâncias da morte do menino, e um trabalho está sendo realizado em parceria com a Divisão de Homicídios e com a 8ª Delegacia de Polícia Judiciária da Polícia Militar.
Reconstituição
A Divisão de Homicídios da Capital (DH) vai fazer, na semana que vem, a reconstituição da morte do menino. Os investigadores esperam a volta da família de Eduardo, que foi para o Piauí, estado natal da família, para fazer o sepultamento do menor.
Em depoimento, dois policiais militares admitiram que atiraram com fuzis próximo à área em que Eduardo foi baleado e morto. O delegado não quis comentar as declarações de moradores que disseram que PMs recolheram cápsulas de bala do local do crime. Rivaldo disse que a perícia recolheu algumas cápsulas que foram enviadas para análise.
"Não trabalhamos sobre pessoas. Nós investigamos os fatos. A reprodução simulada é imprescindível para esclarecer o caso. Precisamos estabelecer os locais onde estavam as vítimas, policiais e pessoas que possam ter visto ou ouvido o que aconteceu", disse o delegado.
Nesta terça, a movimentação de policiais foi grande no conjunto de favelas, principalmente nas áreas consideradas mais violentas. O policiamento foi reforçado com cerca de 300 homens do Comando de Operações Especiais (COE). Homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) circulam por todo o conjunto de favelas e o Choque se concentra na Nova Brasília, pois os policiais dessa região estão passando por um treinamento.
“A gente espera justiça e paz, só isso. Através da paz a gente consegue alcançar todos os nossos objetivos e mais a frente, quem sabe, chegar todos os projetos sociais que estão faltando. Mas se não houver paz, não consegue nada”, afirmou um dos líderes comunitários que esteve nesta terça na DH.

Reprodução da morte de Elizabeth
O delegado disse ainda que sobre a morte de Elizabeth, dentro de casa também no Alemão, já ouviu sete pessoas, entre policiais e parentes. A reprodução simulada da morte de Elizabeth ocorrerá, segundo Rivaldo, provavelmente no mesmo dia da simulação de Eduardo.

Rivaldo disse ainda que, quando a perícia esteve no local, recebeu bastante ajuda de moradores. Na reunião desta terça, com os líderes comunitários, ele disse esperar continuar contando com a colaboração da comunidade.
Queremos que haja um comprometimento da polícia com a vida, e não com a morte"
Marcos Valério Alves, líder comunitário
"Viemos cobrar empenho da polícia. Estamos sentindo muito a morte de Eduardo, Elizabeth e Caio. Queremos que esses casos não fiquem impunes", disse Francisco Arimateia, da Fazendinha.
"Queremos paz. A reciclagem e todo aprimoramento pra ajudar o trabalho da polícia na comunidade são válidos. Queremos que haja um comprometimento da polícia com a vida, e não com a morte", disse o líder comunitário da Palmeira, Marcos Valério Alves.

O relações públicas das Unidades de Polícia Pacificadora, major Marcelo Corbage, que também participou da reunião, disse que a PM está colaborando para a verdade dos fatos e que foi aberto um inquérito policial militar para apurar o caso.

"O momento é muito difícil para todos. Também temos muitos policiais vitimados e mortos. A solução só virá com o apoio de todos para que a gente consiga a paz duradoura e permanente. Estamos analisando e repensando o policiamento nas comunidades e queremos sensibilizar os moradores para que colaborem como testemunha para ajudar a esclarecer o caso", afirmou o major.

Professora lembra última conversa
Uma professora de Eduardo Jesus Ferreira, de 10 anos, morto na última semana no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, fez um vídeo, exibido pelo RJTV desta terça-feira (7), falando sobre a última conversa que teve com o aluno. Ela lembrou com carinho que o menino gostava de contar histórias e visitar asilos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário