Os holandeses foram metódicos, concentrados, aplicados e científicos para conter o ímpeto de um adversário determinado e corajoso, que agora pode estar em nosso caminho.
A vitória de 2 a 0 da Holanda, gols de Fer e Depay, foi o triunfo do futebol planejado sobre a paixão. Então, sob este ângulo, talvez seja melhor mesmo encarar os chilenos, já que a característica da emoção sul-americana também é brasileira.
O primeiro tempo já demonstrou por que não há melhor ou pior para o Brasil encarar: dois times absolutamente cientes do que querem estabeleceram com seus padrões em campo: holandeses precavidos e tentando especular contra-ataques; chilenos com posse de bola, coração pulsante no embalo de sua torcida, evidentemente, lá no fundo de seus sentimentos, querendo escapar do Brasil.
O vaivém de pontinhos brancos e laranjas
O primeiro tempo foi de pontinhos brancos espevitados, velozes, verticais, mas muito bem marcados por pontinhos laranjas, flutuantes, atentos, ligados. Mas quem mirava o gol eram os chilenos, que também eram superiores no duelo de meio-campo. Em determinado momento, a posse de bola chilena superava absurdos 75%.
Mesmo com toda esta superioridade, chance de gol só com Gutierrez, aos 22 minutos, sozinho na área, momento que arrancou o famoso “uhhh” das duas torcidas. E os objetivos holandeses quase fizeram o crime, aos 34, com Vrij, de cabeça, dentro da área: a bola passou pertinho da trave, após cruzamento de Robben. E este, aos 38, também petrificou chilenos, acordou holandeses: arrancou vertical, veloz, até entrar na área e concluir cruzado. Errou por pouco.
O tempo inicial se consumiu com os chilenos mais merecedores da festa de sua torcida e com uma inimaginável, porém real, timidez dos holandeses diante da atuação de seu time. Exceto o último lance de Robben, que serviu para lembrar: haveriam mais 45 minutos.
Tática de poupar-se do calor ajudou Holandeses
Na segunda etapa, não haveria mais, se é que houve, por que os holandeses se pouparem de um calor nem tão assustador em São Paulo. Era hora de aplicar contra-ataques como os que surgiram nos 10 minutos finais da primeira etapa. E conter os chilenos.
De fato, os holandeses avançaram a marcação, diminuindo os espaços para os chilenos lidarem com a troca de bola no meio-campo. Foi uma ação que dominou as perigosas investidas chilenas do primeiro tempo.
Mas tiveram um efeito prático: transformaram o que era um 0 a 0 interessante e com emoção no primeiro tempo, num jogo de segunda etapa sem gols e feio até sair o gol holandes.
Desde os movimentos iniciais, o jogo se transformou na etapa final naqueles que um gol determinaria o vencedor. Os dois times passaram a jogar pelo que no futebol se convencionou chamar de “uma bola”.
Principalmente por parte dos holandeses, que começaram a abusar das faltas, com a anuência do árbitro, que economizou em amarelos, tornando mais difícil a tentativa do Chile de jogar futebol.
Não há como não lembrar da pressão do técnico Van Gaal sobre a arbitragem na coletiva na véspera do jogo. Certamente as suspeitas de que a o juiz de Gâmbia não estaria à altura deixou o juiz, no mínimo, tímido.
Bakary Gassama esperou por 21 faltas dos holandeses até amarelar Blind.
Uma bola virou duas
O Chile ainda lançou mão de Valdívia para tentar uma última estocada. Mas não funcionou. O que deu certo foi a entrada de Fer. Ele ficou pouco mais de um minuto em campo até marcar seu gol, de cabeça, dentro da área, aos 31 minutos. A tal da recompensa de jogar por “uma bola”.
Já quando o Chile buscava o empate, aquele contra-ataque ameaçador do primeiro tempo apareceu. Robben fugiu pela esquerda e serviu Depay, que consolidou a vitória.
Ao término da partida, o Chile “perdeu” sua final antecipada, como o técnico Sampaoli classificou o jogo. Terá que encarar o Brasil (se o anfitrião classificar-se em primeiro) e testar seu bom momento da forma mais difícil que o grupo poderia imaginar.
Chile 0Claudio Bravo; Mauricio Isla, Gary Medel, Francisco Silva (Jorge Valdivia) e Gonzalo Jara; Eugenio Mena, Charles Aránguiz, Marcelo Díaz e Felipe Gutiérrez (Jean Beausejour); Alexis Sánchez e Eduardo Vargas (Mauricio Pinilla). Téc.: Jorge Sampaoli.
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