quarta-feira, 23 de julho de 2014

Casos de meningite transmitidos por caramujo se espalham no Brasil


Contato frequente da população com o molusco facilita a transmissão
 Carlos Grevi

Contato frequente da população com o molusco facilita a transmissão

Uma nova forma de meningite está se espalhando pelo Brasil nos últimos anos. Transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo gigante africano, a infecção é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis. Chamada de meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral, ela já foi diagnosticada em seis estados, nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. 
Originário da Ásia, o A. cantonensis foi associado a um caso de meningite pela primeira vez no território brasileiro em 2006. Desde então, foram confirmados 34 casos da infecção em pacientes de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com um óbito. “Esse parasita é próprio de roedores, especialmente da ratazana, um animal que tem capacidade de sobreviver em praticamente qualquer ambiente e também costuma viajar nos navios. O aumento do transporte marítimo entre os países propicia a introdução do verme em novas áreas”, destaca o médico Carlos Graeff-Teixeira, da PUC-RS.
No Brasil, a disseminação do parasita é favorecida pelo grande número de moluscos, em especial da espécie Achatina fulica – o chamado caramujo gigante africano, que se tornou uma praga no país. Assim como os ratos, os moluscos fazem parte do ciclo de vida do verme. As formas adultas do A. cantonensis são encontradas nos roedores: é neles que os vermes se reproduzem, garantindo sua continuidade. Eliminadas nas fezes destes animais, as larvas do parasita são ingeridas pelos caramujos. “O ciclo se fecha quando os ratos comem os moluscos infectados. Porém, as pessoas também podem ser infectadas se ingerirem os caramujos ou a baba (muco) liberada por eles, contendo as larvas do parasita”, explica a pesquisadora Silvana Thiengo.
A pesquisadora destaca que o verme infecta diversos tipos de moluscos, incluindo algumas espécies nativas do Brasil. Todas elas podem propagar a doença, mas o caramujo gigante africano tem sido o vetor mais frequente. “O Achatina é um excelente transmissor da infecção. Capaz de se alimentar de diversos tipos de plantas ornamentais, verduras e frutas, ele é encontrado em áreas urbanas e rurais e fica muito próximo das pessoas. O contato frequente da população com o molusco facilita a transmissão”, avalia Silvana.
SINTOMAS
A meningite causada por A. cantonensis começa com a ingestão do caramujo ou de muco do molusco infectado. Uma vez ingeridas, as larvas do verme migram para o sistema nervoso central e se alojam nas meninges – membranas que envolvem o cérebro. O organismo inicia uma reação inflamatória, que resulta no quadro de meningite. Geralmente, a doença é autolimitada, pois os parasitas não conseguem se reproduzir no ser humano e morrem naturalmente. No entanto, alguns pacientes desenvolvem formas graves e o índice de mortes é de 3%. O atraso no diagnóstico é um dos fatores que contribuem para o agravamento do quadro: cada dia de dor de cabeça prolongada aumenta em 26% as chances de coma.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO
No Brasil, a infecção costuma ocorrer por meio da ingestão acidental destes animais ou do muco liberado por eles. Crianças e indivíduos com deficiência mental, assim como pessoas que trabalham em hortas e jardins podem ser considerados grupos de risco para a doença. O consumo de verduras, legumes e frutas crus sem a higienização adequada também pode levar à infecção, uma vez que os moluscos liberam muco sobre os alimentos e também podem acabar sendo picados e ingeridos despercebidamente junto com saladas ou temperos.
Catar os caramujos é a principal medida recomendada para eliminá-los. Segundo Silvana, os próprios moradores podem fazer a limpeza de quintais e hortas infestados, adotando medidas de precaução. “Evitar o contato dos moluscos com as mãos é fundamental. Na ausência de luvas, deve-se usar um saco plástico para proteger a pele”, indica a bióloga, acrescentando que é importante recolher também os ovos, que costumam ficar semienterrados. 


Fonte: AGÊNCIA FIOCRUZ DE NOTÍCIAS

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