terça-feira, 18 de julho de 2017

Jornal Nacional flagra 'feirões do crime' no Rio de Janeiro

O Jornal Nacional flagrou para onde vão os produtos subtraídos nos assaltos a cargas que assustam o estado do Rio: as feiras que vendem mercadorias roubadas. Os repórteres Paulo Renato Soares e Felipe Freire passaram um mês investigando esse mercado e encontraram milhares de pessoas participando dele.
A equipe esteve em três feiras ilegais em Acari e Pavuna, na Zona Norte do Rio, e Duque de Caxias, na Região Metropolitana. Nas feiras ilegais produtos como óleo de soja saia 40% mais barato que no mercado. Um potinho de salame, 70%.
Com os números de lote dos produtos, a reportagem confirmou com as empresas quando os caminhões foram levados. Com as informações, foi possível saber que a carga de óleo de soja, por exemplo, foi levada no dia 19 de junho, a 1,5 km de onde o produto era vendido logo depois, em Acari. Nos cinco primeiros meses de 2017 foram 4.130 roubos de carga. São 27 crimes por dia no estado do Rio.
Os números estão subindo desde 2013. Os roubos são praticados a luz do dia por bandidos que se escondem em favelas estrategicamente perto de rodovias e vias expressas, se aproveitando da geografia e da falta de policiamento para atacar. A luz do dia, assaltam os caminhões e levam a carga para dentro de comunidades. Os motoristas, obrigados a ir com os bandidos, se tornam testemunhas amedrontadas.
"A sensação é muito ruim. Minha vontade é abandonar a profissão. Já é meu desejo há tempo, e agora piorou", disse um deles.
As transportadoras dizem que o prejuízo é enorme, para todo mundo. "Inicialmente você tem o aumento do custo do transporte. Quando você aumenta o custo do transporte, seja pelo aumento da escolta ou pelo aumento do preço do seguro, você é obrigado a repassar isso para seu cliente", diz Eduardo Rebuzzi, presidente da Fetranscarga do Rio. Os investigadores dizem que o roubo de carga não é atividade mais exclusiva das quadrilhas especializadas. Os traficantes de drogas passaram a se interessar por este crime para poder financiar as armas que usam contra a polícia e outros criminosos. Agora, cada vez mais receptadores fazem parte da rede criminosa: gente que compra dos traficantes para revender e fazer algum dinheiro, ou gente que compra para levar para casa e fazer economia.
Os produtos são expostos em barracas, carrinhos de supermercado e até nos trens, onde o JN flagrou uma venda de feijoada de caixinha por R$ 5 a unidade, cerca de R$ 10 a menos que nos mercados.
"Precisa ter mais gente, masi recurso para combater. Mas a população do Rio, que sofre com a violência, também tem que se conscientizar e evitar a compra de produtos roubados. Ao comprar um produto roubado ela está fazendo parte desse mecanismo e tá contribuindo para elevar o grau de violência da cidade", diz o delegado Tiago Dorigo, da DRFC.
Comprar mercadoria roubada é crime de receptação, com pena de um a quatro anos de cadeia. A empresa Supervia, responsável pelos trens urbanos, declarou que a venda de produtos roubados dentro dos vagões e nas estações é um problema de Segurança Pública.
As prefeituras do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias também afirmaram que a repressão à venda de produtos roubados é responsabilidade das autoridades policiais.
Já a Polícia Militar alega que o comércio em feiras livres obedece a normas estabelecidas pelas prefeituras.

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