quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Em cinco dias, aeroportos registram três episódios de agressão a deputados


Deputado Weverton Rocha (PDT/MA) é hostilizado por homem no Aeroporto de Brasília
Deputado Weverton Rocha (PDT/MA) é hostilizado por homem no Aeroporto de Brasília Foto: Reprodução

Em cinco dias, foram pelo menos três casos de parlamentares hostilizados em aeroportos do país. Não coincidentemente, uma sequência que sucede a aprovação na Câmara dos Deputados do pacote anticorrupção com mudanças polêmicas em relação ao texto original, que levava mais de 2 milhões de assinaturas de cidadãos.
Autor do ponto mais polêmico do novo pacote, que prevê punição a juízes e membros do Ministério Público mediante abuso de autoridade, o deputado Weverton Rocha (PDT/MA) foi interpelado de forma agressiva por um eleitor, na noite do dia 1º, no Aeroporto de Brasília. O parlamentar, que chegou a ter sua blusa suja por um tomate, emitiu uma nota em que repudiou o ato, o qual chamou de "reação desmesurada e irracional".
No dia seguinte, no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, no Ceará, o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB/CE) foi chamado de "ladrão", "vagabundo" e "gigolô de empreiteira" por dezenas de pessoas. O protesto terminou em pancadaria. Um funcionário de Aníbal acabou agredindo um dos manifestantes e todos foram parar na delegacia.
E, no último sábado, o deputado federal Pompeo de Mattos (PDT/RS) foi abordado, cobrado e chamado de "bandido" por passageiros no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
Uma onda de saias justas protagonizadas por parlamentares nesta semana, mas que tomou conta do noticiário em 2016. O ex-deputado Eduardo Cunha, por exemplo, vivenciou, pelo menos, três incidentes em aeroportos. Foi tietado e principalmente hostilizado em Brasília, três dias após sua cassação. Foi xingado e amaldiçoado dentro de um avião, quatro dias depois, enquanto desembarcava da ponte aérea São Paulo-Rio. E, por fim, levou uma chinelada de uma servidora pública, no Aeroporto Santos Dumont, em outubro.
A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B/AM) foi protagonista de um incidente em Curitiba, em setembro. Na ocasião, um homem foi retirado do avião, que já estava na pista do Aeroporto Afonso Pena, após tentar tirar à força das mãos da parlamentar seu aparelho celular, que registrava o discurso do passageiro contra ela.
Outros registros com políticos em episódios hostis estrelados em aeroportos marcaram o ano de 2016. Em abril, também no aeroporto de Curitiba, a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) foi chamada de "corrupta velha", "assaltante" e outros xingamentos.
Na mesma semana, o então deputado Mendonça Filho (DEM/PE), hoje ministro da Educação, foi cercado por manifestantes, no Aeroporto Internacional de Recife, um dia após votar a favor da abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. No episódio, Mendonça foi chamado de "golpista" e "oportunista".
No mês seguinte, a senadora Marta Suplicy (PMDB/SP) se desentendeu com uma jornalista no Aeroporto de Congonhas, ao ser questionada sobre seu posicionamento favorável ao impeachment de Dilma.
No entanto, apesar da primeira sensação, que pode remeter a população a uma espécie de catarse coletiva ou vingança contra a classe política, as consequências para esta avalanche de hostilidade pública flertam com traços do fascismo, especialmente no que tange a vigilância.
— A agressão, mesmo que verbal, é injustificável. Existem mecanismos para que a população cobre e pressione os políticos. As manifestações de domingo são a prova disso — argumenta o cientista político e sociólogo Paulo Baía.
Segundo o analista, xingamentos podem ser tolerados exatamente em atos públicos, mas não face a face.
— Este comportamento de confronto e constrangimento foge aos limites da democracia. Transforma a violência em regra. Ninguém deve ser agredido. Uma sociedade democrática é construída através dos debates e da divergência, sem agressão — alerta Baía, que diagnostica o crescimento de relatos de hostilidade a políticos como um "transbordamento da tensão das redes sociais".


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