terça-feira, 3 de maio de 2016

Transportadoras do RJ empregam até 20% do orçamento em segurança


Janaína CarvalhoDo G1 Rio
Avenida Brasil registrou o maior número de roubo de cargas em 2015 (Foto: Janaína Carvalho / G1)Avenida Brasil registrou o maior número de roubo de cargas em 2015 (Foto: Janaína Carvalho/G1)
No meio da crise financeira que atinge o país, empresas que fazem transporte de cargas no Rio amargam um prejuízo ainda maior devido ao crescimento do roubo de carga e a necessidade de reforço na segurança. Atualmente, segundo o Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga), o empresário do setor de transporte de carga precisa investir até 20% do orçamento em segurança, contando com seguro, escolta, entre outros mecanismos. Na última segunda-feira (3), o G1 começou uma série sobre os altos índices de roubo de carga que estão batendo recordes no Rio, e suas consequências.
“O transportador investe de 15% a 20% do seu orçamento em segurança, contando com seguro, escolta etc. O seguro exige que as empresas tenham gestores de risco, exige que tenham rastreamento [monitoramento] e algumas exigem até que tenham escolta. Isso aí encarece o transporte e, no final, quem vai pagar é o consumidor final”, afirma o coronel Venâncio Moura, presidente do Conselho de Prevenção a Roubos e Furtos de Carga do sindicato.

Segundo uma das maiores seguradoras do ramo, o gerenciamento de risco é o fator mais relevante na hora de definir o seguro do transporte de carga. “Para inibir o roubo de carga, há necessidade de intensificar o gerenciamento de risco. O valor do seguro varia de acordo com o volume transportado, a região, o tipo de carga, e, principalmente se há gerenciamento de risco”, afirmou Rose Matos, gerente da Porto Seguro Transportes.

Além de rastreador no veículo, atualmente as seguradoras ainda exigem rastreamento em determinados periféricos como sensor da porta de baú, na porta do carona, monitoramento do tráfego do veículo. “Se não há como adequar o gerenciamento de riscos, podemos nem fazer o seguro”, disse Rose.
Empresas precisam investir mais em segurança (Foto: Janaína Carvalho / G1)Empresas precisam investir mais em segurança (Foto: Janaína Carvalho / G1)


Ainda de acordo com Moura, dependendo do local onde se encontra o centro logístico ou do local por onde o transportador vai passar para entregar a carga, as seguradoras estão fazendo seguro parcial: “Se vai transportar R$ 300 mil, ela só faz o seguro de R$ 80 mil. O transportador vai arcar com o resto do prejuízo, ou então, algumas estão já colocando restrições, como não querer fazer o contrato com a transportadora tal porque é prejuízo para a seguradora”.

Para minimizar o problema, muitas empresas passaram a fracionar a carga. “Ao invés de transportar uma carga com valor de R$ 300 mil, R$ 400 mil ou R$ 500 mil, ele passou a pegar veículos menores para fazer o transporte. O problema é que no final das contas, isso também aumenta o custo do transporte”, destacou.
Aumento de até 10% no valor do seguro
De acordo com a Federação Nacional de Seguros Gerais, cerca de 65% das cargas distribuídas no Brasil são feitas por transporte terrestre e o aumento no índice de roubos nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, acabou influenciando para um aumento de até 10% no valor do seguro no ano passado.

“O aumento da taxa que as seguradoras operam teve aumento entre 5% e 10%, entre janeiro e dezembro de 2015. Quando as estatísticas apontam maior índice de roubo de cargas, as seguradoras acabam reconduzindo sua estratégia”, destacou Paulo Robson Alves, presidente da Comissão de Transporte da federação.

O setor de seguro de cargas teve crescimento de 2,89% em 2015, comparado com 2014. Existe a questão do reflexo da economia. Menos carga transitando, menos seguro sendo contratado.
Cargas visadas têm seguro mais alto
De acordo com Paulo Alves, as cargas muito visadas por criminosos acabam tendo o valor do seguro mais alto ou até mesmo tendo restrições. Além disso, esse tipo de carga ainda exige uma grande organização de logística para a distribuição. “O cigarro, o farmacêutico e o alimentício, dependendo muito do produto, são bastante complicados. O transporte de carne, por exemplo, tem uma restrição muito grande. Mercadorias que têm distribuição muito rápida, com aceitação em mercado paralelo muito grande, acabam incentivando e atraindo a atenção das quadrilhas”, explica Paulo.

Segundo pesquisa do Instituto de Segurança Pública, de janeiro a agosto de 2015, 16,3% das cargas roubadas no Estado do Rio eram bebidas. Os alimentos, principalmente carnes, ocupam a segunda posição na categoria de mercadorias roubadas por criminosos, com 15,2%. Em seguida vem o cigarro, que já ocupou o topo da lista há cerca de uma década, atualmente representa 9,9% dos roubos. Os eletrodomésticos estão em quarto lugar, com 8,7%.
Seguradoras podem recusar o seguro se empresa não fizer gerenciamento de riscos (Foto: Janaína Carvalho / G1)Seguradoras podem recusar o seguro se empresa não fizer gerenciamento de riscos (Foto: Janaína Carvalho / G1)


Segundo o presidente do Polo Empresarial da Pavuna, Marcelo Andrade, muitas empresas passam por dificuldades no momento de assegurar a mercadoria. “Queremos pelo menos voltar aos números de antes. Acabar é impossível porque o crime sempre estará acontecendo. O problema é que atingimos números inaceitáveis, ao ponto da empresa estar quebrando. Tem empresas que não estão conseguindo fazer seguro. A coisa se tornou tão crítica que nem o segurador está querendo fazer, pois não vale a pena”, afirma Marcelo.

O aumento da criminalidade acaba gerando impacto negativo para o empresário em duas situações. “Cargas muito visadas como eletroeletrônicos, alimentícios e têxtil têm maior visibilidade. Em cima disso, o valor do seguro acaba impactando, pois você tem dois seguros: um que cobre o risco de perdas e danos e o seguro do transportador. Embora os dois sejam distintos, o roubo impacta em ambos”, alerta Paulo Alves.

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