quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Tiroteios deixam pelo menos 38 mil alunos sem aula em agosto no Rio


Jornal Nacional mostrou que problema atinge escolas em áreas violentas.
Especialistas dizem que situação provoca impactos físicos e emocionais. 

Do G1 Rio
No mês de agosto, pelo menos 38 mil alunos de escolas públicas do Rio ficaram sem aulas por causa de tiroteios. Nesta terça-feira (2), seis escolas e três unidades de ensino infantil  foram fechadas na Vila Cruzeiro, pelo segundo dia seguido, conforme mostrou o Jornal Nacional. O problema atinge escolas que ficam em áreas de violência constante como Santa Cruz, na Zona Oeste e no Complexo da Maré, na Zona Norte da cidade. De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, o problema acarreta impactos físicos e emocionais nas crianças como se elas fossem reféns de guerra, num lugar onde deveriam se sentir protegidas.
Há duas semanas, em uma escola localizada em Santa Cruz, a polícia fazia uma operação contra o tráfico em duas favelas que ficam próximas. Os professores contam que as situações de insegurança são constantes. " A gente constantemente passa por situações complicadas, tiroteios, no entorno. isso não é uma coisa que acontece de vez em quando. Já aconteceu dezenas de vezes nesses quatro anos que eu trabalho aqui", diz Eduardo Gama Mendes de Moraes, professor de Ciências.

As crianças dizem que ficam com medo e muitas vezes deitam no chão para se proteger dos tiros. No Complexo da Maré, uma escola municipal encontrou uma forma de dar maior proteção aos alunos. Eles identificaram que os tiroteios ocorriam por volta das 7h da manhã, hora das operações policiais. Por isso, decidiram começar o turno mais tarde. "A alternativa seria esse horário reduzido pra evitar que os nossos alunos sofressem com a ação da polícia e com os conflitos e tiroteios durante o horário escolar", explicou uma das professoras.
Uma outra escola decidiu transferir o parque de diversões ao ar livre para dentro da sala de aula. " De repente num momento de tiroteio, você ficar com criança lá fora, ter que entrar, fica perigoso, a gente vai ter que entrar né, correndo, então fica mais tranquilo fazer aqui", contou.
A secretaria estadual de Educação informou que a interrupção das aulas, quando necessária , é pontual, sem prejuízos educacionais, já que os conteúdos são repostos. Segundo a secretaria municipal de Educação, as aulas perdidas também são repostas. Além disso, são desenvolvidos projetos especiais nas escolas de áreas conflagradas, com apoio de psicólogos e assistentes sociais.
Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que a polícia não pode se isentar de agir. Beltrame afirmou que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são a  principal política de combate à violência no Rio e que há operações temporárias nas comunidades sem UPP.
Os especialistas explicam os problemas que alunos podem adquirir com essa constante exposição à violência. Segundo o professor Roberto Lent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,  que estuda o cérebro há mais de 20 anos, a educação não tem nada a ver com o medo.
"A situação de medo, é uma situação que os animais desenvolveram para protegerem a sua própria vida, né? Então numa situação de medo, o animal - e nós também somos, funcionamos da mesma maneira - temos que nos preparar pra atacar a fonte que nos provoca medo ou fugir", explicou.
Segundo ele, o cérebro de uma criança vai ficar indevidamente focado numa atenção de algo que está por acontecer, que é muito grave. Com o tempo, os problemas podem ser graves, como ter distúrbios cardíacos. O especialista afirma que ela também poderá ter distúrbios respiratórios e os corticóides, hormônios que são liberados na circulação sanguínea, vão baixar sua imunidade. Ele disse que ela poderá ficar mais suscetível a doenças, como gripes até infecções um pouco mais complicadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário