terça-feira, 8 de setembro de 2015

'Rapaz estudioso e bom', diz tio sobre morto em tiroteio em Manguinhos


Cristian Andrade, 13 anos, foi baleado durante ação da DH na favela.
Delegado Rivaldo Barbosa promete 'isenção' e fará reprodução simulada.

Henrique Coelho e Lívia TorresDo G1 Rio
O adolescente Cristian Andrade, de 13 anos, baleado e morto nesta terça-feira (8) em Manguinhos, na Zona Norte do Rio, era um jovem estudioso e participava de projetos sociais na comunidade, segundo relatos de amigos e parentes. Jorge da Silva, tio do rapaz, disse que soube por outros moradores da região que o sobrinho estava jogando futebol no momento do tiroteio entre policiais e traficantes. A morte causou revolta na comunidade (veja na reportagem acima).
"Ele estava jogando bola e viu uma senhora caindo no chão na rua. Segundo os moradores, ele foi socorrer a senhora e acabou tomando um tiro", contou o tio. "Ele era um rapaz estudioso e bom, de repente acontece um baque desses com a nossa família. É muito triste".
A troca de tiros ocorreu durante operação de policiais da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) da Polícia Civil e da Divisão de Homicídios, com apoio da UPP Manguinhos, para buscavam quatro suspeitos de assassinar o policial militar Clayton Alves Fagner Dias, de 26 anos, que trabalhava na UPP. O crime foi em 28 de abril, na Iha do Governador. Ao chegarem na comunidade, os policiais dizem que foram atacados por criminosos.
Ele estava jogando bola e viu uma senhora caindo no chão na rua. Segundo os moradores, ele foi socorrer a senhora e acabou tomando um tiro"
Jorge da Silva, tio de Cristina Andrade
Jorge chegou à Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, por volta das 16h30 para prestar depoimento. Na delegacia, foi ouvido, assim como os agentes envolvidos na operação.
Armas apreendidas
O delegado Rivaldo Barbosa, diretor da DH, disse em que as armas foram apreendidas, tanto dos PMs como dos policiais civis, para perícia. Só as dos agentes da Core, que segundo ele não estavam perto do local do crime, não foram recolhidas.
Uma pistola, munição e um carregador foram achados perto do local onde Cristian foi morto, mas segundo o delegado não era do adolescente morto. Uma reprodução simulada será marcada para tentar refazer a dinâmica do crime.
Moradores protestaram em Manguinhos, zona norte do Rio, após morte de adolescente (Foto: Paulo Campos/Estadão Conteúdo)Moradores protestaram em Manguinhos após a morte (Foto: Paulo Campos/Estadão Conteúdo)
"Vamos fazer uma reprodução simulada para que a gente possa definir de onde veio o tiro. É bom que se esclarece que as armas dos policiais da DH já foram identificadas e vão ser apreendidas, bem como as dos PMs, para que a gente possa, de maneira isenta e sem nenhum tipo de corporativismo fazer uma ação para que a sociedade, em especial as pessoas que moram em Manguinhos, tenha uma resposta da Polícia Civil por meio da Divisão de Homicídios", declarou.
Protesto e confusão
Em protesto, moradores revoltados com o ocorrido montaram barricadas e interditaram a Avenida Leopoldo Bulhões, uma das principais vias da região. Houve tumulto com policiais. Devido à operação e aos protestos, quase 3 mil alunos ficaram sem aulas.
Arma, munição e carregedor apreendidos em Manguinhos; segundo Rivaldo, não eram do adolescente morto (Foto: Lívia Torres / G1)Arma, munição e carregedor apreendidos não eram do adolescente, disse delegado (Foto: Lívia Torres / G1)
Polícia buscava suspeitos de assassinar PM; dos 5, só 'Lambão' (à esquerda) está preso (Foto: Reprodução / Polícia Civil)Polícia buscava suspeitos de assassinar PM; só 'Lambão' (à esq.) está preso (Foto: Reprodução / Polícia Civil)
Em nota, o Fórum Social de Manguinhos, disse que os "moradores e moradoras de Manguinhos, conhecendo bem o trabalho da polícia carioca, tentaram proteger o corpo e a dignidade de Cristian (é o que resta aos favelados quando alvejados)". "A defesa do corpo, e portanto, da dignidade daquele menino, que não mais poderá jogar bola, ou crescer, foi protegida, às custas de muita violência, bombas, e fuzis empunhados à frente daqueles que ali vivem e não suportam mais o massacre desse maldito Estado Genocida" (veja a íntegra da nota no fim da reportagem).
Mulher baleada na Maré
O adolescente não foi o único baleado na manhã desta terça em comunidades. Uma mulher de 33 anos levou um tiro no rosto no Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio. A vítima, que não teve a identidade revelada, foi levada para o Hospital Federal de Bonsucesso. De acordo com a direção da unidade, ela passou por uma cirurgia e, à noite, estava em estado grave.

De acordo com a Polícia Militar, agentes do Comando de Operações Especiais (COE), Batalhão de Choque, Batalhão de Ações com Cães e Batalhão de Operações Especiais realizam operação na região. Não havia registro de presos e apreensões.
Veja a íntegra da nota do Fórum Social de Manguinhos:
"Nós do FSM vimos por meio de nossa página dizer com pesar, mas principalmente com muito ódio, que mais uma criança foi assassinada pelo Estado Brasileiro, pelas mãos da polícia do estado do Rio de Janeiro.
Por volta das 10h da manhã de hoje, com incursão policial da CORE, BOPE e PM, foram ouvidos os primeiros tiros na favela de Manguinhos.
Cristian Soares da Silva, de 12 anos, um menino, como podem imaginar: negro, foi morto por policiais que atuavam na tal "operação". Jogava bola, atividade cotidiana para qualquer criança, preta ou branca, na favela ou na zona sul. A diferença é que as crianças brancas da zona sul não precisam correr de policiais, tão pouco das balas que vem de seus fuzis.
Cristian tentou proteger sua vida, mas foi morto às 11h30, ao lado do campo onde jogava bola.
Os moradores e moradoras de Manguinhos, conhecendo bem o trabalho da policia carioca, tentaram proteger o corpo e a dignidade de Cristian (é o que resta aos favelados quando alvejados).
A defesa do corpo, e portando, da dignidade daquele menino, que não mais poderá jogar bola, ou crescer, foi protegida, às custas de muita violência, bombas, e fuzis empunhados à frente daqueles que ali vivem e não suportam mais o massacre desse maldito Estado Genocida.
Nós do Fórum Social de Manguinhos, estamos mobilizados junto aos moradores e moradoras de Manguinhos para que a nossa favela não se cale diante de mais uma morte.
Cristian, como Matheus, Paulo Roberto, Mauricio Afonso, Johnatha, não será esquecido, como tantos outros que tombaram na mão desse maldito Estado Genocida.
Continuaremos na luta, com bombas, fuzis na cara e tantas ameaças que nosso povo sofre todos os dias.
NENHUM PASSO ATRÁS SERÁ DADO!
‪#‎CristianPresente‬
"

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