sexta-feira, 15 de maio de 2015

Disparos de arma de fogo mataram 42 mil pessoas


Número é o maior já registrado desde 1980. Jovens correspondem a 59% das vítimas

homicídioCom 116 vítimas por dia, os disparos de armas de fogo no Brasil mataram 42.416 pessoas em 2012. Desse total de mortes, 40.077, o equivalente a 94,5%, foram resultados de homicídios, revela o levantamento Mapa da Violência 2015 – Mortes Matadas por Armas de Fogo. O número é o maior já registrado desde o início da série histórica que começou em 1980. Entre aquele ano e 2012 houve um crescimento de 387% no número de mortos por disparos. em 32 anos, o país registrou 880.386 óbitos por arma de fogo.
Outro índice negativo registrado em 2012 foi a taxa de mortalidade por arma de fogo por 100 mil habitantes, que ficou em 21,9. Esse resultado só é menor que o de 22,2 verificado em 2003. Quando se especifica os homicídios praticados com armas de fogo, a taxa fica em 20,7, sendo a mais elevada desde 1980.
Se comparado com os de outros 90 países, essa taxa deixa o Brasil no décimo primeiro lugar entre as nações com o maior número de mortes por arma de fogo, atrás de El Salvador, Venezuela, Guatemala e Colômbia, por exemplo. O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa, avalia que a baixa adesão às campanhas do desarmamento e a grande quantidade de armas em posse dos cidadãos contribuíram com o resultado negativo:
— Várias campanhas do desarmamento não conseguiram atingir suas metas. A estimativa é que o Brasil tem 100 milhões de armas de fogo em circulação. É muita arma para um país que tem a cultura da violência. A modernização do aparelho de segurança pública e o desarmamento são elementos chaves para diminuir a taxa — explicou.
Já entre os estados, Alagoas apresentou a taxa mais elevada: foram 55 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Espírito Santo, com 38,3, e Ceará, com 36,7. Na outra ponta, estão Roraima, cujo índice ficou em 7,5, Santa Catarina, que registrou 8,6, e São Paulo, com 10,1. No Rio de Janeiro, a taxa foi de 22,1.
Com exceção do Sudeste, todas as regiões do país tiveram crescimento da mortalidade por arma de fogo entre 2002 e 2012. No Norte, houve aumento de 135,7%. No Nordeste, o crescimento também foi elevado: 89,1%. Já na região Centro-Oeste, os quantitativos cresceram 44,9%. O Sul registrou o menor crescimento: 34,6%.
O Sudeste teve uma expressiva diminuição de 39,8%. Jacobo explica que essas quedas foram puxadas, por São Paulo, cujos números caíram 58,6% com relação ao ano de 2002 e também Rio de Janeiro, com queda de 50,3%.
— Em São Paulo, a queda está relacionada à modernização do aparelho de segurança, à implantação de novos sistemas de gerenciamento. Além disso, o estado também contou com o trabalho do Instituto Sou da Paz e com a criação do Fórum de Segurança Pública, que contribuíram com o desarmamento. No Rio de Janeiro, a queda começa antes da criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e está associada a uma visão mais científica da criminalidade. O processo de depuração da polícia, que era muito compenetrada com milicias, muda a realidade do estado.
JOVENS
As principais vítimas das mortes por armas de fogo no Brasil são os jovens. Do total de 42.416 óbitos por disparo de armas de fogo em 2012, 24.882 foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos, o que corresponde a 59%. Em termos demográficos, os jovens correspondiam a pouco menos de 27% da população brasileira. Em 1980, o número de vítimas nessa faixa etária foi de 4.415. Assim, em 32 anos, houve um aumento de 463,6% nesses casos.
Já a taxa de mortalidade de jovens por armas de fogo atingiu o dobro da taxa registrada para a população total: 47,6 para cada 100 mil habitantes. Tanto a taxa quanto o número absoluto de jovens mortos por armas de fogo em 2012 são os mais altos já registrados pelo Mapa da Violência. Jacobo afirma que a falta de políticas públicas para os jovens é o principal motivo para esse crescimento:
— Tendo em conta que o Estatuto da Juventude só foi aprovado em 2013, temos políticas públicas para jovens há pouco tempo, é muito recente. O ECA está sendo rediscutido, ainda tem que amadurecer. Nós temos déficit na área de proteção de nossa juventude, que é a educação. A educação é o melhor mecanismo contra a violência. Quanto maior o nível educacional do indivíduo, menor a chance de ser vítima de homicídio.
OUTRO LADO
Sobre o fato de ser o estado com a maior taxa de mortalidade por armas de fogo, a Secretaria de Segurança da Defesa Social de Alagoas afirmou que os dados são referentes a anos anteriores ao da administração atual e apresentou números que mostram a redução nos crimes violentos e aumento na apreensão de armas nos últimos cinco meses.
Em relação ao Ceará, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do estado não comentou os dados afirmando que não teve acesso ao relatório e que não conhecia a metodologia de confecção do Mapa. O governo do Espírito Santo ainda não se manifestou sobre o resultado.

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