sexta-feira, 10 de abril de 2015

PM suspeito de atirar em Eduardo no Alemão falta a segundo depoimento


Segundo a corporação, ele está abalado e de licença médica.
DH ouviu nesta quinta-feira 3 PMs envolvidos na morte de Elizabeth.

Cristina BoeckelDo G1 Rio
O PM suspeito de ser o autor do tiro que matou o menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, no Conjunto de Favelas do Alemão, era esperado para prestar novo depoimento nesta quinta-feira (9) na Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro, mas não compareceu. De acordo com o delegado titular da unidade, Rivaldo Barbosa, ele será novamente intimado a prestar esclarecimentos.
Dois PMs admitiram ter feito disparos no dia em que Eduardo foi baleado, mas, segundo os investigadores, a suspeita recai mais sobre um deles. De acordo com a Polícia Militar, ambos ficaram abalados psicologicamente com o caso e estão de licença médica.
Barbosa destacou que o depoimento do policial não é determinante para elucidação do caso. "A investigação não se resume apenas ao depoimento de um policial", disse, ressaltando a coleta de outros depoimentos e provas materiais do crime. Outros 4 policiais militares envolvidos na ação também devem ser ouvidos, além da família e de outros moradores da região.
Entrevista com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de
Jesus, pais do menino Eduardo, são aguardados no 
Rio para novos depoimentos
 (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão
Conteúdo)
Um dos familiares do garoto que serão ouvidos novamente é uma irmã que, segundo o delegado, teria presenciado o momento em que Eduardo foi baleado.
"Ele tinha duas irmãs. A menina, de 14 anos, deve ser ouvida novamente, assim como a mãe. Dentro dos nossos protocolos, os familiares diretamente envolvidos com a vítima só prestam depoimentos depois do enterro. Mas neste caso, os pais enterraram o filho em outro estado. Estamos aguardando o regresso deles para que possamos ouvir todo mundo de uma forma mais equilibrada, com os ânimos restabelecidos", afirmou o delegado.
PMs do caso Elizabeth
Compareceram na DH nesta quinta para depor três PMs envolvidos na ação que terminou com a morte de Elizabeth de Moura Francisco, de 49 anos, baleada um dia antes de Eduardo, também no Alemão. Dois deles estão participando de um curso de reciclagem e o terceiro está de férias.
Segundo a delegada Patrícia Aguiar, responsável pela investigação sobre a morte da mulher, ao deporem pela primeira vez, ainda na 45ª DP, os policiais defenderam a tese de que entraram em confronto com criminosos no dia em que Elizabeth e a filha foram baleadas dentro de casa.
“No primeiro depoimento, eles afirmaram não ter envolvimento na morte dela. Mas afirmaram que trocaram tiros com criminosos, revidando uma agressão",  contou a delegada.
Reconstituições
Rivaldo Barbosa adiantou que as reconstituições do caso Eduardo, da morte de Elizabeth e do caso Wanderson. "A data ainda não foi definida porque dependemos dos depoimentos e de algumas variáveis da logística da Divisão de Homicídios", afirmou o delegado.
O delegado Rivaldo pediu que possíveis testemunhas dos três casos procurem a Polícia Civil para ajudar a elucidar os crimes. "Queria conclamar a comunidade para que, se alguém viu alguma coisa, nos procure na divisão de Homicídios ou nas delegacias para que possamos esclarecer o mais rápido possível este caso."
Comandante-geral das UPPs, coronel Pinheiro Neto, esteve no velório, mas não falou com a imprensa (Foto: Cristina Boeckel / G1)Coronel Pinheiro Neto detalhou como serão as 
mudanças no policiamento no Alemão
(Foto: Cristina Boeckel / G1)
Tropa no Alemão será reorganizada
O comandante-geral da PM, tenente-coronel Pinheiro Neto, deu mais detalhes sobre o processo de mudança no policiamento do Conjunto de Favelas do Alemão, anunciado no último domingo pelo governador Luiz Fernando Pezão. Neto afirmou que a região não terá uma reentrada de tropas, e sim passará por uma reorganização e restruturação de seus homens. A informação foi passada para a imprensa em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (9), no Centro do Rio.
A redistribuição já começou com o uso de forças especiais Bope, Batalhão de Choque e Batalhão de Ação com cães e os agentes de UPPs serão realocados para pontos mais protegidos e fortificados. O processo de reorganização começou nas localidades cobertas pelas UPPs Fazendinha, Nova Brasília e Alemão.
O termo reocupação foi usado pelo governador Luiz Fernando Pezão, em entrevista ao Fantástico. Segundo Pinheiro Neto, porém, o que vai acontecer é uma redistribuição das tropas nas áreas mais conflagradas do Conjunto de Favelas, na Zona Norte do Rio.
Problemas pontuais, diz Pinheiro Neto
"Os conflitos aumentaram consideravelmente nessas comunidades. Precisamos entender o que está acontecendo. Mas isso não acontece em todas as UPPs, são problemas pontuais. A maioria absoluta da população quer a policia nessas áreas", afirmou o Pinheiro Neto. As instalações, segundo o comando da corporação, também serão fortificadas através da construção de bases permanentes.
Segundo ele, as comunidades Nova Brasília, Morro do Alemão e Fazendinha são focos de "turbulência" no projeto das policias pacificadoras, e terão reforço de segurança e treinamento dos policiais dessas unidades. 
"Esses policiais estão sendo treinados em etapas, em turmas de 60 policiais, com treinamentos de auto proteção e avaliações psicológicas para todos eles, alem de cursos como gestao do erro, já que policiais são humanos e também erram", explicou. As turmas já começaram no morro do Alemão, onde o menino Eduardo, de 10 anos, foi atingido por um tiro de fuzil, e ja na semana passada na Nova Brasília.
Homens do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Especiais, do Comando de Operações Especiais e do Batalhão de Ações com Cães reforçam a segurança na região. Segundo René Alonso, comandante do COE, a situação no conjunto se acalmou desde as mortes da última semana. "Desde a quinta feira, não houve confrontos na região e a resposta da população foi positiva", afirmou.
A relação dos policiais com os moradores em áreas de UPP também foi alvo de avaliação da PM. O coronel Robson Rodrigues admitiu que, se a população e os policiais sentem medo, perde-se a essência da pacificação:
"Precisamos mudar, criar mais solidariedade com a população", afirmou o coronel Robson. "E esse medo é ruim para todos, inclusive para o policial, que às vezes reage da pior forma", lamentou.

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