quinta-feira, 2 de abril de 2015

PM do RJ dá início à ocupação da Maré no lugar de Exército e Marinha


Movimentação da PM começou na noite de terça.
Transição foi decidida entre Ministério da Defesa e Seseg em janeiro.

Alba Valéria MendonçaDo G1 Rio
A Polícia MIlitar do Rio de Janeiro começou, na madrugada desta quarta-feira (1º), a substituir os cerca de 3.300 mil homens da Marinha e do Exército que ocupam o Conjunto de Favelas da Maré, no Subúrbio do Rio. O processo de transição será feito em três etapas. As comunidades da Praia de Ramos e Roquette Pinto serão as primeiras, segundo a polícia. Desde a meia-noite 50 homens participam da ocupação. Não houve prisões ou apreensões.
“De fato a gente inicia hoje [quarta-feira] essa transição e sabemos do desafio que temos pela frente, estamos preparados e prontos para isso. Sabemos das dificuldades que teremos, mas não há recuo. Sabemos da clareza do processo de pacificação. São 140 mil moradores em 16 comunidades. Temos a noção do tamanho do desafio, mas temos que mostrar a nossa determinação”, disse. O relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, afirmou que a ocupação da comunidade é um desafio grande, mas disse que a corporação está otimista. 
Ainda de acordo com Caldas, o efetivo de 117 homens previsto para a Praia de Ramos e Roquete Pinto só estará completo quando a base da UPP local estiver construída — o que deve acontecer dentro de 60 dias.
Existe um clima de pessimismo em relação a pacificação. Se der errado, vai todo mundo para o buraco."
Frederico Caldas, relações públicas da PM
Serão criadas quatro bases da UPP da Maré, ainda de acordo com o coronel. A primeira será instalada na Praia da Ramos/ Roquette Pinto; segunda nas comunidades de Nova Holanda/ Parque União; outra responsável pela Baixa do Sapateiro/ Timbau; a última na Vila do João/ Vila dos Pinheiros. A próxima etapa de transição entre Força de Pacificação e Polícia Militar será no dia 1º de maio nas comunidades de Nova Holanda, Parque União, Parque Rubens Vaz e Nova Maré.
Caldas também estabeleceu data para a substituição total do exército. "Até o dia 30 de junho a pacificação da área estará concluída. O planejamento previsto para a Maré é de 1.620 homens, mas esse número pode ser mudado de acordo com as necessidades da região", explicou. O relações públicas afirmou que a expectativa da ocupação da Maré é mais tranquila - embora na região existam três facções criminosos e uma milícia - do que a do Alemão, já que se trata de um território basicamente plano. E voltou a falar que não haverá recuo da política da pacificação.
Polícia militares patrulham Praia de Ramos (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)Polícia militares patrulham Praia de Ramos
(Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
"Existe um clima de pessimismo em relação a pacificação. Se der errado, vai todo mundo para o buraco. Vai para o buraco a polícia, a sociedade, vai todo mundo", disse.  Na avaliação da PM o grande número de balas perdidas registradas este ano é resultado do grande número de armas que estão nas ruas nas mãos de criminosos — pelo cálculo da corporação, nos últimos 100 dias, cerca de 100 fuzis foram apreendidos.
O cinturão de segurança nos acessos às favelas  Praia de Ramos e Roquete Pinto começou às 20h de terça-feira (31). A estratégia de a transição começar por essas duas favelas é parte do planejamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública para pacificar o território formado por 16 comunidades. O procedimento foi estabelecido conforme protocolo de cooperação assinado no dia 7 de janeiro entre o governo federal, o Ministério da Defesa e o governo do estado.
A partir da meia-noite, equipes do Batalhão de Choque começaram apatrulhar a região. Efetivos do Grupamento Tático e de  Motociclistas (Getem) estavam planejados para iniciar às 6h as ações nas duas comunidades.
Caldas destacou a importância do trabalho do Exército nessses três anos de ocupação da Maré. De acordo com o relações públicas da PM, os militares fizeram um grande trabalho de levantamento e mapeamento da região, estabelecendo pontos de ocupação estratégicos que merecem uma atenção especial do patrulhamento. São eles: Avenida Brasil, Linha Vermelha, Linha Amarela, Baía de Guanabara e parte do bairro vizinho do Caju, na Zona Portuária.
"A Maré é estratégica. Ela tem ligações com a baía e com as principais vias de acesso da cidade. O Exército ajudou a PM a mapear esses pontos de grande movimentação de pessoas e de entrada e saída de armas e drogas nas comunidades. Vamos intensificar a fiscalização nesses pontos mais vulneráveis", disse o coronel, destacando que nesta quarta-feira lanchas da PM já começaram a fazer uma varredura por aquela região da baía.
Nos próximos dias, as ações de varredura na Praia de Ramos e na Roquete Pinto vão passar a contar com o apoio também do Batalhão de Ações com Cães (BAC).
De acordo com o Chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa, almirante Ademir Sobrinho, o atual efetivo empregado na Operação São Francisco, como foi chamada a ocupação da Força de Pacificação, será reduzido em um quarto até o final de abril.
Outras etapas
A partir de 1º de maio, as comunidades de Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré serão desocupadas pela Força de Pacificação. As demais localidades serão devolvidas ao controle das autoridades fluminenses até o dia 30 de junho, data oficial de encerramento da operação (veja infográfico abaixo).
Transição da ocupação da Maré será em três etapas (Foto: Matusael Jorge / Ministério da Defesa / Divulgação)Transição da ocupação da Maré será em três etapas (Foto: Matusael Jorge / Ministério da Defesa / Divulgação)
Balanço
Até o dia 29 de março, a Operação São Francisco contabilizou mais de 65 mil ações realizadas. Os 16,7 mil militares que atuaram na Garantia de Lei e Ordem (GLO) efetuaram 467 prisões por crime comum e outras 116 por crime militar. Foram recolhidos 228 menores.
Entre as apreensões, foram 521 de drogas, 54 de armas, 119 de munições (3692 cartuchos), 56 veículos e 87 motocicletas. Mais de 2,2 mil denúncias foram feitas pela população ao Disque Pacificação.
Avaliação
Segundo nota enviada pelo Ministério da Defesa, o almirante Ademir Sobrinho avalia que a Força de Pacificação desempenhou missão com "bravura e correção", mas considera que o trabalho foi mais complexo e árduo que em outras GLO comandadas pelo Ministério da Defesa, como a ocupação do Alemão, em 2010.
Segundo o almirante, a topografia plana, a grande concentração populacional e a escassa presença de representantes do Judiciário estadual – para a expedição, por exemplo, de mandados de busca e apreensão - dificultaram o andamento das ações.
O Conjunto de Favelas da Maré tem área de 7 km², às margens da Baía da Guanabara, e abriga cerca de 140 mil habitantes. O complexo é formado pelas favelas: Praia de Ramos, Parque Roquete Pinto, Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Conjunto Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas, Vila dos Pinheiros, Conjunto Pinheiros, Conjunto Novo Pinheiro – Salsa & Merengue, Vila do João e Conjunto Esperança.
O Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio em fotografia aérea feita nesta sexta (28). O complexo será ocupado neste domingo (30) numa ação conjunta das tropas federais com a polícia (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Vista aéra do Conjunto de Favelas da Maré (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)

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