sexta-feira, 3 de abril de 2015

Mãe de morto no Alemão acusa: 'Nunca vou esquecer o rosto do PM'


Terezinha diz que viu o filho ser morto e que policial a ameaçou em seguida.
Eduardo de Jesus, de 10 anos, sonhava ser bombeiro, segundo a mãe.

Daniel SilveiraDo G1 Rio
 A doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, diz não ter dúvida de que foi um policial militar do Batalhão de Choque da PM que matou seu filho, Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos. Em entrevista ao G1, ela afirma ainda que foi ameaçada pelo mesmo policial ao cobrar o crime.
O garoto foi baleado na porta de casa e morreu na hora no fim da tarde desta quinta-feira (2), no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil investiga a autoria do disparo.
“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, contou.
Terezinha disse que estava sentada na sala de casa, assistindo televisão quando viu o filho ser morto. “Ele estava sentado no sofá comigo. Foi questão de segundos. Ele saiu e sentou no batente da porta. Teve um estrondo e quando olhei, parte do crânio do meu filho estava na sala e ele caído lá embaixo morto”, relembrou.
Eduardo tinha 10 anos (Foto: Reprodução / Facebook)Eduardo tinha 10 anos (Foto: Reprodução /
Facebook)
Sonho de ser bombeiro
Revoltada e abalada, Terezinha, mãe de outros quatro filhos, repetiu reiteradas vezes o sonho de Eduardo: ser bombeiro.
“Tiraram o sonho do meu filho. Tiraram todas as chances dele. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aí vem a polícia e acaba com tudo”, lamentou. “Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por quê fizeram isso com meu filho?”, questionava sem parar.

Revolta na comunidade e homenagem
Um vídeo postado na internet (veja na reportagem abaixo) mostra moradores revoltados com PMs, chamados de "covardes" e "assassinos". Eduardo de Jesus Ferreira é a quarta vítima de confrontos entre polícia e criminosos em 24 horas.
Na noite desta sexta-feira, moradores fizeram uma homenagem ao menino. Velas foram acesas e todos, juntos, rezaram um Pai Nosso.
Vídeo mostra corpo do menino no chão (Foto: Reprodução / Facebook)Vídeo postado no Facebook mostra corpo do menino no chão (Foto: Reprodução / Facebook)
Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHoque) foram recebidos a tiros por criminosos na comunidade do Areal. "Houve confronto e um menor foi baleado", informa o texto. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e as armas dos policiais serão apreendidas pela Polícia Civil. A Divisão de Homicídios vai investigar o crime.
'Não vamos recuar', diz governador
O governador Luiz Fernando Pezão divulgou uma nota lamentando os episódios de violência no Rio. Ele se solidarizou com as famílias das vítimas, determinou empenho máximo à polícia nas investigações e disse que o estado não vai recuar diante da covardia de criminosos.
"As nossas forças de segurança vão continuar enfrentando a criminalidade. E o Estado também, se preciso, vai continuar cortando na própria carne para perseguir esse objetivo. Não vamos recuar diante da covardia de criminosos. Determinei empenho máximo à polícia nas investigações para que os culpados sejam punidos", disse Pezão.

A repercussão do caso fez com que o Conjunto de Favelas do Alemão fosse um dos assuntos mais comentados na noite desta quinta-feira (2) no Twitter. O assunto aparecia na segunda posição do ranking nacional (trending topics) como #GuerraNoAlemão.
Mais baleados
Pelo menos outras duas pessoas foram atingidas por balas perdidas no Alemão desde a tarde desta quarta (1º) – uma mulher morreu e a filha dela ficou ferida. No total, além de Eduardo, outrasseis pessoas foram baleadas em dois dias – três morreram. Há cerca de 90 dias seguidos os moradores do Alemão convivem com intensos tiroteios.
Pela manhã, uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na Rua Canitá, foi atacada. Janelas da unidade, que funciona dentro de um contêiner, foram quebradas. Segundo o CPP, pessoas não identificadas também colocaram fogo em uma caçamba de lixo que fica ao lado da unidade. O fogo em um colchão chegou a atingir uma parte da base.
Moradores do Alemão convivem com tiroteios há 90 dias seguidos (Foto: Reprodução)Mulher morreu nesta quarta, vítima de bala perdida
(Foto: Reprodução)
Bandeira vermelha
O Alemão foi classificado como uma área de bandeira vermelha, onde há resistência do tráfico e risco para a ação da polícia. Por isso, o COE foi acionado. A nova classificação das UPPs foi publicada no Diário Oficial há duas semanas. As áreas de bandeira amarela são aquelas que ainda apresentam riscos, mas têm uma tendência de estabilização, e as de bandeira verde, onde o processo de pacificação é considerado estável.

Teleférico parado
O teleférico do Alemão vai parar por duas semanas a partir do dia 11 de abril. A paralisação é necessária para manutenções, mas poderia ser feita até o meio do ano. A Supervia, concessionária que opera o teleférico, decidiu antecipar a medida por causa da violência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário