quinta-feira, 9 de abril de 2015

Filho é absolvido por morte de Eduardo Coutinho e será internado


Daniel Coutinho, que matou o pai a facadas, foi considerado 'inimputável'.
Réu será submetido a internação por ser portador de doença mental.

Do G1 Rio
O documentarista Eduardo Coutinho concede entrevista durante a 11° edição da Festa Literária Internacional de Paraty 2013, conhecida como FLIP, em Paraty, no sul do Estado do Rio de Janeiro, no dia 5 de julho (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)O documentarista Eduardo Coutinho morreu no ano
passado (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)
O juiz Fábio Uchôa Montenegro, da 1ª Vara Criminal da Capital, absolveu sumariamente, nesta quarta-feira (8), o réu Daniel de Oliveira Coutinho, acusado de assassinar a facadas o pai, o diretor de cinema Eduardo Coutinho, em fevereiro de 2014.
Segundo o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), ele será submetido à medida de segurança de internação, em estabelecimento oficial para portadores de doença mental, pelo prazo mínimo de três anos. Na sentença, o magistrado considerou o réu "inimputável", de acordo com o laudo da perícia no exame de insanidade mental a que foi submetido.
"Ocorre, entretanto, que o réu é inimputável, eis que portador de doença mental - Transtorno Esquizotípico -, uma vez que não era, ao tempo da ação, inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato, e era inteiramente incapaz de determinar-se de acordo com este entendimento, consoante concluiu a douta perícia no Exame de Insanidade Mental do Réu ", escreveu o juiz na sentença. O magistrado afirmou, ainda, que a medida de segurança de internação visa garantir a segurança da sociedade e do próprio réu.
"Com efeito, o réu encontra-se nas condições do Art. 26 caput do Código Penal, justificando, assim, a imposição de medida de segurança de internação pelo prazo de três anos, tendo em vista a gravidade de sua doença mental, apontada pela perícia forense e pela privada, a potencialidade de perigo que o mesmo representa para a sociedade e para si próprio, sublinhando-se que a perícia particular ainda aponta para possibilidade de grave risco de suicídio, se não houver o devido tratamento curativo, do tipo internação", concluiu o juiz na sentença.
O crime
O cineasta, que tinha 80 anos, foi morto no dia 2 de fevereiro dentro do seu apartamento, na Lagoa, Zona Sul do Rio. Daniel, que confessou o assassinato, foi preso em flagrante e respondeu por homicídio qualificado.
Vale este: Cronologia de Eduardo Coutinho  (Foto: Arte/G1)
A mulher dele cineasta, Maria das Dores Coutinho, 62 anos, também foi esfaqueada pelo filho na ocasião, mas sobreviveu após ficar internada em estado grave.
Segundo informações da Polícia Civil, na época do crime, a mãe dele levou dois golpes de faca nos seios, três no abdômen e teve ainda uma lesão no fígado. Segundo o delegado, ela só sobreviveu porque se trancou no banheiro e ligou para outro filho, o promotor Paulo Coutinho. Maria das Dores só saiu do local com a chegada dos bombeiros.
Surto
Daniel contou à polícia que sofria de síndrome do pânico e que, por intuição, raspou a cabeça dias antes do crime. Nela, teria percebido uma inscrição, a sequência de números 666. A partir daí, disse ter sido tomado por uma obsessão espiritual e que, apesar de amar muito seus pais, resolveu matá-los por medo de lhes acontecer algum mal.

Ele explicou que dormia com uma faca já alguns dias antes do crime. Disse que, naquele dia, acordou em pânico, sobressaltado, e decidiu, num surto, matar os pais e depois suicidar-se. Na tentativa de causar-lhes, segundo ele, uma morte indolor, atacou os pais enquanto dormiam. Primeira a ser agredida, a mãe acordou e conseguiu escapar para o banheiro. Eduardo Coutinho, o pai, levantou-se com a confusão e acabou sendo morto pelo filho.
“A pessoa que entrou no quarto dos meus pais achava que era Satanás. Quando achei a sequência de números na minha cabeça, eu pensava que era o demônio. Era uma obsessão espiritual, fui induzido a matar meus pais e depois a me matar. Eu tentei me matar, mas aí não aconteceu nada. Me senti enganado pelos espíritos. Foi quando eu fui procurar ajuda para tentar salvar meus pais”, disse Daniel Coutinho em audiência.

Carreira
Considerado um dos maiores documentaristas do Brasil, o paulistano Coutinho é ganhador do Kikito de Cristal, principal premiação do cinema nacional, pelo conjunto da obra. Entre seus principais filmes estão "Edifício Master", "Jogo de cena", "Babilônia 2000" e "Cabra Marcado para Morrer".
Em junho do ano passado, ele e o também cineasta José Padilha (autor dos filmes "Tropa de Elite 1 e 2") foram convidados a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar.
Em toda a carreira, Coutinho dirigiu, entre longas e curtas, 20 filmes, segundo informações do site IMDB. São eles:
As Canções, de 2011
Um Dia na Vida, 2010
Moscou, 2009
Jogo de Cena, 2007
O Fim e o Princípio, 2006
Peões, 2004
Edifício Master, 2002
Porrada, 2000
Babilônia 2000, 1999
Santo Forte, 1999
Boca de Lixo, 1993
O Fio da Memória, 1991
Santa Marta, 1987
Cabra Marcado Para Morrer, 1985
Exu, Uma Tragédia Sertaneja 1979
Teodorico, o Imperador do Sertão, 1978
Seis Dias de Ouricuri, 1976
Faustão, 1971
O Homem Que Comprou o Mundo, 1968
O ABC do Amor, 1967

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