terça-feira, 7 de abril de 2015

Famílias de vítimas se unem contra abusos de PMs em favelas do Rio


'Nada vai trazê-la de volta', diz filho de Elizabeth, morta no Alemão.
Deputados prometem audiências públicas sobre falta de serviços.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
Elizabeth de Moura Francisco foi baleada dentro de casa e não resistiu ao ferimento; a filha dela de 14 anos também foi atingida (Foto: Reprodução / TV Globo)Elizabeth foi baleada dentro de casa
(Foto: Reprodução / TV Globo)
"Nada do que eu falar vai trazer a minha mãe de volta". A revolta de Maycon Moura, de 21 anos, filho de Elizabeth, morta no último dia 1 de abril durante um tiroteio, mostra a rotina dos moradores do Alemão, que pedem por mais serviços e preparo dos policiais.
Vítimas e familiares de pessoas que se dizem alvo de abusos cometidos por policiais militares se reuniram nesta segunda-feira (6), no gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que preside a Comissão de Diretos Humanos da Alerj, com a presença da presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, Paulo Pimenta (PT).
Maycon, que estava na casa no momento em que Elizabeth foi baleada, disse que o tiro foi disparado por um PM. A família alega ainda que não foi procurada pelo Estado depois da tragédia – ao contrário do que aconteceu com os parentes de Eduardo de Jesus, morto na quinta-feira (2), no Conjunto de Favelas do Alemão, que tiveram o traslado e o enterro no Piauí custeados pelo governo.
"Ela estava tentando proteger os filhos quando foi baleada. Eu vi o policial atirando de cima. No dia seguinte, ele estava no mesmo ponto, meio que amedrontando", disse Maycon, que em depoimento à DH na última semana disse que o soldado foi identificado.
O trauma, no entanto, fica para a família. "Meu irmão de seis anos viu a mãe morrer e não quer voltar para a escola", disse Maycon, emocionado. A irmã de Elizabeth foi prestar depoimento na Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, por volta das 16h45 desta segunda-feira.
Esteve também na reunião Denise Moraes, a mãe de Caio Moraes, de 20 ano, mototaxista morto em maio de 2014. Ela afirma que o policial da UPP Nova Brasília responsável pelo tiro, segundo investigação da Polícia, tinha apenas 40 dias como policial. "Como alguém que tem apenas 40 dias vai para a rua para atirar, para matar?", questionou ela.
Audiências no Alemão
Na reunião, estava presente também o deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ). Segundo ele, Freixo e Pimenta, serão feitas três audiências para tratar das demandas do Alemão, que segundo os parlamentares incluem saúde, creches, lazer e educação.
"Vamos fazer uma audiência pública sobre o Complexo do Alemão aqui na Alerj, e uma outra da Câmara Federal no próprio Complexo do Alemão. Os moradores ficaram de apresentar as pautas, porque eles tem de protagonizar isso", afirmou Freixo, que criticou o anúncio de reocupação do Alemão, feito por Pezão no último final de semana. "É uma lógica de guerra em que ninguém vence", disparou.
Pimenta disse que um requerimento será feito ainda nesta semana para estabelecer uma data. "Ao que parece, a presença do estado se resume às UPPs, ao contrário do que foi dito que seria. Então, os moradores precisam ser ouvidos",afirmou. "A relação tensa  entre os policiais e comunidade é algo que chama muito a atenção nos depoimentos que tivemos. Teremos uma CPI do assassinato da Juventude Negra que deve ter diligências no Alemão", afirmou Jean Willys (PSOL-RJ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário