segunda-feira, 2 de março de 2015

Policial admite tiro que matou menor em ação na Palmeirinha, diz polícia


Em depoimento, sargento voltou a dizer que reagiu a ataque.
Um menor morreu; sobreviventes contestam versão de PMs.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
Um dos nove policiais militares envolvidos na operação que deixou um jovem baleado na comunidade da Palmeirinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, admitiu nesta segunda-feira (2) que atirou contra o grupo. Alan Souza de Lima morreu e um amigo dele, Chauan Jambres, ficou ferido. Um terceiro menor saiu sem ferimentos.
Os policiais foram ouvidos na 30ª DP (Marechal Hermes). O sargento Ricardo Wagner Gomes foi o único que assumiu ter dado do tiro. O policial manteve a versão dada inicialmente, de que apenas reagiu a um ataque.
Ricardo, Alan de Lima Monteiro e Carlos Eduardos Domingues Alves estavam em um carro da PM no momento da ação na Palmeirinha, no dia 21 de fevereiro. Alan e Carlos Eduardo negam ter atirado contra o grupo. Eles dizem que apenas ouviram os tiros.
Foram utilizados na operação um carro blindado e duas equipes táticas que se dividiram, totalizando nove policiais. O fuzil de Ricardo foi apreendido, juntamente com uma pistola e um revólver. O dia da reconstituição do caso ainda será definido pela delegacia.
O pai de Alan de Souza Lima está previsto para prestar depoimento na delegacia nesta terça-feira (3), às 13h.
Vídeo
Uma gravação feita no celular de Alan instantes antes de sua morte mostra os três amigos conversando e brincando quando começam os tiros. A Polícia Militar afirmou inicialmente que o grupo foi atingido em confronto e que os três seriam suspeitos. Os sobreviventes negaram a versão desde o início e as imagens do vídeo mudaram os rumos da investigação.
Segundo Adilson, pai de Chauan, as imagens feitas pelo colega do filho que foi morto revoltaram, mas também deram alívio para a família.
“Eu senti muita raiva quando vi aquilo. Mas também foi bom, pois tudo que eles [policiais] fazem está certo e a população está sempre errada. Meu filho sempre me deu orgulho, é um jovem trabalhador”, afirmou o pai de Chauan, ressaltando que o jovem trabalha como ambulante na praia para poder comprar terno para ir aos cultos da igreja e pagar a passagem para os treinos de futebol.
Chauan Jambre Cezário foi baleado por PMs na Favela da Palmeirinha (Foto: Reprodução/TV Globo)Chauan Jambre Cezário foi baleado por PMs na
Favela da Palmeirinha (Foto: Reprodução/TV Globo)
Agonia dos feridos
O vídeo registra um momento de diversão entre três amigos. Dois deles estavam de bicicleta. Um minuto e quinze segundos depois do início da gravação, os jovens correram. Logo, tiros são ouvidos. “Corri atrás dele só pra pegar o celular, pra ele parar de gravar”, explicou Chauan.
O celular estava nas mãos de Alan, que caiu no chão, mas continuou gravando. O vídeo permite ouvir a agonia dos feridos e as vozes de dois homens, que seriam policiais militares. Um deles pergunta aos garotos por que eles correram. “A gente tava brincando, senhor”, responde um deles.
Ao fundo, pessoas da comunidade dizem aos policiais conhecer os meninos: "É morador. É morador".
Segundo testemunhas, os policiais tentaram justificar o fato de os rapazes terem sido baleados, afirmando que eles entraram no meio da troca de tiros entre os PMs e criminosos.
Em nota divulgada no sábado (21), a Polícia Civil informou que os jovens ficaram feridos durante um confronto com PMs e que na ação foram apreendidos um revólver e uma pistola. Ainda segundo a nota, Chauan foi autuado em flagrante por porte de arma e resistência.
Na madrugada de sábado, o caso provocou um protesto violento na Avenida Brasil. Um ônibus e um caminhão foram queimados. A via expressa ficou interditada por quase quatro horas.
Chauan mora na Baixada Fluminense, mas decidiu passar o fim de semana na casa do patrão, na Favela da Palmeirinha, para economizar dinheiro de passagem. Ele vende mate na Praia de Ipanema. “Justiça. Só isso. Que prove a minha inocência. Eu não sou bandido”, afirmou o rapaz.

Assim que tomou conhecimento do vídeo, o comando da PM determinou o afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência e também a abertura imediata de um inquérito policial militar.

A Polícia Civil, que investiga o caso, já recebeu uma cópia do vídeo. De acordo com a delegada Adriana Belém, titular da 30ª DP (Marechal Hermes), foi instaurado inquérito para apurar a morte de Alan de Souza Lima, 15 anos, e a lesão corporal de Chauan. Segundo a assessoria, antes da divulgação das imagens a polícia já tinha pedido a revogação da prisão de Chauan devido a inconsistências nos depoimentos. A realização de uma reconstituição está sendo analisada pela delegada e o jovem baleado está sendo aguardado para prestar esclarecimentos.
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