terça-feira, 3 de março de 2015

Pais de jovem morto em operação policial na Palmeirinha depõem no Rio


Alan Souza de Lima morreu durante operação policial.
Ele gravou vídeo antes de morrer que mostrou tiros.

Matheus Rodrigues e Káthia MelloDo G1 Rio
Os país do jovem Alan Souza de Lima, morto em uma operação policial na comunidade da Palmerinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, chegaram para prestar depoimento sobre o caso nesta terça (3) (Foto: Matheus Rodrigues/G1)Os país do jovem Alan Souza de Lima, morto em uma operação policial na comunidade da Palmerinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, chegaram para prestar depoimento (Foto: Matheus Rodrigues/G1)
Os pais do jovem Alan Souza de Lima, morto em uma operação policial na comunidade da Palmerinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, chegaram para prestar depoimento no início da tarde desta terça-feira (3), na 30ª DP (Marechal Hermes). Francisco de Assis Vicente de Lima e Irene Costa de Souza aguardavam para depor por volta das 13h.

“Era um jovem guerreiro, que lutava para que um dia a paz fosse construída. Estudava, trabalhava. A delegada me deu o tempo necessário para eu me recuperar. É uma dor que não acaba. Só que tem a perda de um filho sabe. Eu não vi o vídeo, não aguentei ver”, disse Francisco.
Um vídeo gravado por Alan antes de morrer mudou os rumos da investigação e fez com que policiais militares se tornassem suspeitos de atirarem nos jovens desarmados. Inicialmente, eles foram tratados como suspeitos de participarem de um tiroteio. Os PMs mantêm a versão de que foram atacados.
De acordo com a delegada que acompanha as investigações, Adriana Belém, a reconstituição do crime será feita após todos os envolvidos prestarem depoimento.
O sargento Ricardo Wagner Gomes, um dos nove policiais militares envolvidos na operação admitiu, em depoimento nesta segunda-feira (2), que atirou contra o grupo, mas apenas como reação a um ataque. Alan morreu e um amigo dele, Chauan Jambres, ficou ferido. Um terceiro menor saiu sem ferimentos.
Os PMs Alan de Lima Monteiro e Carlos Eduardos Domingues Alves, que estavam com o sargento Ricardo em um carro da polícia no momento da ação, em 21 de fevereiro, negam ter atirado contra o grupo. Eles dizem que apenas ouviram os tiros.
Foram utilizados na operação um carro blindado e duas equipes táticas que se dividiram, totalizando nove policiais. O fuzil de Ricardo foi apreendido, juntamente com uma pistola e um revólver. O dia da reconstituição do caso ainda será definido pela delegacia.
Vídeo
A gravação feita no celular de Alan, instantes antes de sua morte, mostra os três amigos conversando e brincando quando começaram os tiros. Segundo Adilson, pai de Chauan, as imagens feitas pelo colega do filho revoltaram, mas também deram alívio para a família.
“Eu senti muita raiva quando vi aquilo. Mas também foi bom, pois tudo que eles [policiais] fazem está certo e a população está sempre errada. Meu filho sempre me deu orgulho, é um jovem trabalhador”, afirmou o pai de Chauan, ressaltando que o jovem trabalha como ambulante na praia para poder comprar terno para ir aos cultos da igreja e pagar a passagem para os treinos de futebol.
Chauan Jambre Cezário foi baleado por PMs na Favela da Palmeirinha (Foto: Reprodução/TV Globo)Chauan Jambre Cezário foi baleado por PMs na
Favela da Palmeirinha (Foto: Reprodução/TV Globo)
Agonia dos feridos
O vídeo registra um momento de diversão entre três amigos. Dois deles estavam de bicicleta. Um minuto e quinze segundos depois do início da gravação, os jovens correram. Logo, tiros são ouvidos. “Corri atrás dele só pra pegar o celular, pra ele parar de gravar”, explicou Chauan.
O celular estava nas mãos de Alan, que caiu no chão, mas continuou gravando. O vídeo permite ouvir a agonia dos feridos e as vozes de dois homens, que seriam policiais militares. Um deles pergunta aos garotos por que eles correram. “A gente tava brincando, senhor”, responde um deles.
Ao fundo, pessoas da comunidade dizem aos policiais conhecer os meninos: "É morador. É morador".
Segundo testemunhas, os policiais tentaram justificar o fato de os rapazes terem sido baleados, afirmando que eles entraram no meio da troca de tiros entre os PMs e criminosos.
Em nota divulgada no sábado (21), a Polícia Civil informou que os jovens ficaram feridos durante um confronto com PMs e que na ação foram apreendidos um revólver e uma pistola. Ainda segundo a nota, Chauan foi autuado em flagrante por porte de arma e resistência.
Na madrugada de sábado, o caso provocou um protesto violento na Avenida Brasil. Um ônibus e um caminhão foram queimados. A via expressa ficou interditada por quase quatro horas.
Chauan mora na Baixada Fluminense, mas decidiu passar o fim de semana na casa do patrão, na Favela da Palmeirinha, para economizar dinheiro de passagem. Ele vende mate na Praia de Ipanema. “Justiça. Só isso. Que prove a minha inocência. Eu não sou bandido”, afirmou o rapaz.

Assim que tomou conhecimento do vídeo, o comando da PM determinou o afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência e também a abertura imediata de um inquérito policial militar.

A Polícia Civil, que investiga o caso, já recebeu uma cópia do vídeo. De acordo com a delegada Adriana Belém, titular da 30ª DP (Marechal Hermes), foi instaurado inquérito para apurar a morte de Alan de Souza Lima, 15 anos, e a lesão corporal de Chauan. Segundo a assessoria, antes da divulgação das imagens a polícia já tinha pedido a revogação da prisão de Chauan devido a inconsistências nos depoimentos. A realização de uma reconstituição está sendo analisada pela delegada e o jovem baleado está sendo aguardado para prestar esclarecimentos.
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