terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Médici sabia das torturas em hospital no Rio, diz Comissão da Verdade


Ex-presidente guardava prontuários médicos de presas em arquivo pessoal.
Documentos ficaram por mais de 30 anos na casa do general.

Do G1 Rio
Quase 30 anos depois do fim da ditadura militar, surgem documentos que revelam que o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici sabia, em detalhes, da repressão nos quartéis. A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro apresentou, nesta terça-feira (9), cópias de prontuários médicos que revelam o sofrimento de três mulheres presas durante a ditadura militar. Os papéis pertenciam ao arquivo pessoal do ex-presidente, como mostrou a GloboNews.
A tortura tornou-se uma política de estado naquela época."
Wadih Damois, presidente da Comissão Estadual da Verdade
Cópias dos prontuários médicos de três presas políticas passaram mais de 30 anos na casa do general Médici, que era presidente até março de 1974. Duas delas, Vera Sylvia Magalhães e Francisca Abigail Paranhos, já morreram.
Tais fichas médicas estão num relatório dividido em três volumes elaborado pelo então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid. O relatório faz parte de um acervo com mais de 50 caixas que guardam cerca de mil documentos. Foi uma doação feita há dez anos pela família do ex-presidente ao instituto histórico e geográfico brasileiro. Após tudo ser catalogado, há quatro meses, o material foi liberado para a pesquisa.
Em 1971, o governo militar tentava responder às denúncias que chegaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Por isso, o relatório cita causas psicológicas para os problemas de saúde das presas.
O boletim médico de Vera, por exemplo, registra que ela sentia dores pelo corpo, dificuldade de caminhar e tinha febre constantemente. Porém, o diagnóstico afirma que ela estava com uma paralisia nas pernas por problemas psicológicos. Francisca Abigail também passou pelo Hospital do Exército. O prontuário registra que ela tinha depressão neurótica e que não desejava recuperar-se. Mas, para o perito que analisou os documentos, eles provam a existência de tortura.

Para a Comissão da Verdade do Rio, fica evidente o conhecimento destas práticas pelo presidente da república. “Mostra que a cadeia de comando da tortura, do desaparecimento forçado começava no palácio do planalto. O que se passava nos porões, era do conhecimento de Brasília”, disse Wadih Damois, presidente da comissão.

Damois afirmou que, mais do que ter conhecimento das torturas, a presidência do país era favorável a ela. "Ao contrário do que durante tanto tempo a ditadura sustentou que as torturas, quando reconheciam que houve, era resultado de excesso dos porões. Não é verdade. A tortura tornou-se uma política de estado naquela época", destacou.

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