segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Campanha contra homicídio de negros no RJ


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A Anistia Internacional começou neste domingo, dia 9, a recolher assinaturas para um manifesto contra o alto índice de homicídios de jovens negros no Brasil, onde 30 mil pessoas entre 15 e 29 anos são mortas por ano. Desse total, 77% são negros e 93% homens, apontam dados do Mapa da Violência 2014. Lançada com festa no Aterro do Flamengo, na zona Sul do Rio, a campanha “Jovem Negro Vivo” quer dar visibilidade às estatísticas e quebrar a indiferença da sociedade em relação a essas mortes.
Em 2015, o manifesto público será entregue à presidente da República, Dilma Rousseff, e a todos os governadores do País, com o objetivo de pressionar pela implementação de políticas públicas capazes de alterar esse quadro.
“Queremos provocar a sociedade para sair desse pacto de silêncio e indiferença. Outro lado é pressionar as diferentes instâncias do poder público a promover políticas que ajudem na reversão desse quadro que se agrava a cada ano. Não é um desafio simples, porque requer uma combinação de políticas de várias esferas como segurança pública, educação, trabalho e renda”, afirma o diretor executivo da Anistia Internacional, Átila Roque.
A Anistia Internacional enxerga a campanha como um projeto de longo prazo e pretende aprofundar as pesquisas sobre o tema. Em junho do ano que vem, a entidade lançará um primeiro relatório onde traçará um diagnóstico sobre a lógica por trás dessas mortes. A análise levará em conta especialmente o modo de atuação do sistema judiciário e da polícia. Uma terceira etapa da campanha terá como foco cobrar a investigação e punição de casos individuais de homicídio, como o do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, morto a tiros em abril na favela carioca Pavão-Pavãozinho.
Embora existam algumas iniciativas de governo para combater o homicídio de jovens, a Anistia considera que elas ainda são tímidas e não têm escala para atender a população. Na visão de Roque, para serem de fato efetivas as políticas públicas precisam ocorrer de forma integrada entre os governos federal, estadual e municipal. Ele faz um paralelo com a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, embrião de programas como o Fome Zero e o Bolsa Família.
“Na década de 90 o Brasil foi capaz de reconhecer na fome um tema central. A sociedade se mobilizou e isso resultou na criação de políticas como o Bolsa Família e trouxe resultados: o Brasil saiu do mapa mundial da fome. A gente quer tirar também o País do mapa dos homicídios de jovens, em particular negros”, diz Roque.
Os dados do Mapa da Violência 2014 são alarmantes: de 56 mil homicídios registrados no Brasil em 2012, último levantamento disponível, 50% das vítimas foram jovens. A maioria dos assassinatos é praticada com arma de fogo e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. Apesar das melhorias sociais, da redução da pobreza e da desigualdade, nos últimos dez anos a quantidade de jovens negros mortos cresceu 32,4%, enquanto a de brancos caiu 32,3%. Em 2007 o total de vítimas de homicídio no Brasil (47.707) superava os das guerras do Iraque (6.500) e Afeganistão (23.765) somadas.

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