quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Novas escutas mostram como quadrilha de abortos agia no Rio


Agenciador mostra cautela, já que alguns integrantes já tinham sido presos.
Praça em Bonsucesso era ponto de encontro para grávidas.

Do G1 Rio
A Globonews teve acesso a novas imagens e escutas exclusivas, gravadas com autorização da justiça, que mostram como a quadrilha que praticava abortos ilegais noRio de Janeiro passou a agir depois que a Polícia Civil intensificou a repressão às clínicas clandestinas. A investigação começou no fim de 2012, quando alguns dos lugares onde aconteciam abortos foram interditados, e integrantes do grupo foram presos.
Desde outubro de 2012, quando as investigações começaram, a forma de agir da quadrilha mudou. Os agenciadores não falavam às clientes onde seria realizado o aborto e esses locais passaram a ser itinerantes. Ora em clínicas, ora em salas alugadas, ou até na casa dos integrantes.
A recomendação sempre era de que a cliente fosse a um local público. De lá, ela seria levada para outro lugar, onde seria feito o aborto. O esquema do grupo era sempre o mesmo. Numa escuta feita com autorização da Justiça, uma mulher conversa com Antônio Jorge Cardoso. É possível notar a cautela do agenciador. (Veja o vídeo)
No dia indicado a cliente retorna a ligação. E neste momento todo cuidado era pouco, já que a polícia já havia prendido algumas pessoas em dois flagrantes na clínica de Bonsucesso.
No dia marcado, a polícia acompanhou a ação do grupo. Nas imagens, feitas pela equipe da Corregedoria da Polícia Civil em fevereiro do ano passado, os investigadores descobriram como funcionava o transporte das mulheres.
Um grupo de gestantes está na Praça das Nações, um ponto bastante movimentado de Bonsucesso, no Subúrbio do Rio. Elas aguardavam a chegada de Antônio Jorge -- o mesmo homem das escutas.
Elas são colocadas num táxi e em um carro particular, que pertencia a Iracema Piske. Ela tinha sido presa no mês anterior e Jorge assumiu o posto dela. 
Os policiais da Corregedoria seguiram os carros até o bairro do Rocha, também no Subúrbio. Foi neste dia que os investigadores descobriram a localização de mais uma clínica. O local foi interditado dez dias depois, quando foram presos o agenciador Jorge, o médico Bruno Gomes da Silva, conhecido como Doutor Aborto, e José Luiz Gonçalves, o dono dessa clínica no Rocha. Todos os três voltaram a ser presos na semana passada, na Operação Herodes.
O método usado com essas mulheres foi o mesmo usado com Jandira dos Santos Cruz, de 27 anos. A jovem foi vista pela última vez entrando num carro particular, da quadrilha, na rodoviária de Campo Grande, na Zona Oeste, e nunca mais apareceu.  O corpo dela foi encontrado carbonizado dias depois.
A Globonews já havia mostrado com exclusividade outras escutas que mostram que os integrantes da quadrilha sabiam que estavam sendo investigados, que as ações da polícia não eram isoladas. Esse seria o motivo para agir da forma mais discreta possível.
Essa semana, mais uma pessoa foi presa. Edgar Caveari, conhecido como Chico Agenciador. Ele estava em Miracema, no interior do estado do Rio. Segundo as investigações, ele captava gestantes para dois núcleos da quadrilha, na Zona Norte da capital.
A Operação Herodes foi a maior já realizada em todo o país contra a máfia dos abortos ilegais. Foi um ano e três meses de investigações. A justiça decretou a prisão preventiva de 75 pessoas, sendo que 59 já estão presas e outras 16 continuam foragidas. Entre elas um policial civil e um policial militar.
Três médicos que realizavam os abortos também continuam sendo procurados, entre eles Evangelista Pinto da Silva Pereira, que estaria em Miami, nos Estados Unidos. O delegado Glaudiston Galeano confirmou à Globonews que acionou a Interpol e a Polícia Federal para que a prisão aconteça o quanto antes.
O Tribunal de Justiça do Rio negou o habeas corpus ao cabo da PM Walter Apis Modesto, um dos presos na Operação Herodes. Ele é apontado como segurança de uma das sete clínicas de aborto da quadrilha.
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