quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Vítimas de estupro no Jacarezinho prestam depoimento no TJ-RJ


Mulheres afirmam que 6 policiais estiveram presentes no momento da ação.
Dois PMs devem ser interrogados novamente.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
As três mulheres que acusam policiais militares da UPP do Jacarezinho de estupro prestaram depoimento em audiência na sede Auditoria da Justiça Militar do Tribunal de Justiça do Rio nesta quinta-feira (4). Além do abuso, elas afirmam que outros três policiais estavam com os agentes militares Gabriel Machado Mantuano, Renato Ferreira Leite e Anderson Farias da Silva, expulsos da corporação após o caso, filmaram toda a ação e ainda inseriram isqueiros e canetas em partes de seus corpos.
"Fiquei três dias sem dormir e cinco dias sem comer depois disso", disse uma das vítimas, chorando. Farias e Mantuano vão prestar novo depoimento no dia 25 de setembro.
A primeira a depor reafirmou o que foi dito em inquérito: disse que estava com a filha e uma menor de idade na casa de uma amiga, embaixo de um viaduto em Benfica, na Zona Norte do Rio, depois de tentar convencer sem sucesso a irmã, usuária de crack, a voltar para casa. Elas contam que ficaram assistindo à televisão até por volta das 23h30, quando escutaram tiros e correria perto dali.
"Minha amiga, que também é usuária de crack, foi ver quem havia batido na porta, e eram policiais", afirma. Segundo a vítima, de 36 anos, seis policiais entraram no barraco onde estavam. "Um deles, o Farias (Anderson), era o pior de todos. Perguntou se estávamos com drogas, e mesmo a gente dizendo que não, ele continuava afirmando que sim. Quando minha filha foi pegar uma das cadelas que estavam com a gente, ele deu um chute nela", relatou. "Ele falava que era o "capeta". Botou a arma três vezes no meu rosto e bateu muito em mim e na minha filha", disse.
Em seguida, de acordo com a vítima, elas foram levadas para outro barraco, menor, onde foram obrigadas a tirar a roupa e a fazer sexo com três policiais. Outros três teriam ficado do lado de fora do barraco. "Um deles (Mantuano) utilizava uma touca ninja para não ser reconhecido. Depois, fizeram o que tinham que fazer. Um de cada vez, com as três", contou, refutando a versão de Renato leite, de que teria apenas filmado a ação. Os policiais que estavam do lado de fora, diz ela, não fizeram nada para impedir.
Antes do acontecido, essa vítima ligou para o namorado, que foi até o barraco para buscá-la e levá-la para casa, na favela do Arará, também na Zona Norte do Rio. Quando este chegou lá, porém, ouviu a ordem para que fosse embora. A vítima conta que Farias sugeriu que o namorado entrasse para assistir ao estupro. "Não foi a primeira vez que eles fizeram isso naquela região", ressaltou. Os policiais envolvidos acompanhavam os depoimentos por videoconferência, enquanto permanecem presos no Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar.
"Não consigo esquecer"
No dia do ocorrido, depois que os policiais foram embora, as três vítimas foram até a 25ª DP para registrar o caso. Em depoimento, dois policiais afirmaram que elas seriam usuárias de crack e que teriam jogado pedras contra os policiais em uma operação que ocorrera mais cedo no local. "Não somos usuárias. Não consigo esquecer o que fizeram com a gente" disse ela.
Uma das vítimas, que é menor de idade, afirmou que todos estavam os coletes dos policiais de UPPs, e nem chegaram a tirar a calça durante o ato. "Só abriram o zíper. E estavam todos armados", disse ela, antes de começar a chorar copiosamente, na audiência desta quinta (4). Parentes tiveram que ser retirados da sala para que se acalmassem.

O delegado responsável pelo caso, Fábio Guimarães, afirma que ouviu vítimas e outras quatro testemunhas. Duas delas, contou ele, trabalham em uma birosca perto do local do estupro, onde um dos policiais foi buscar preservativos. Para fazer o reconhecimento dos policiais, diz ele, foi necessário um dia inteiro.
"Colocamos todos os 60 policiais que estavam trabalhando no dia, e foram reconhecidos ao serem apresentados grupos de cinco, até chegarmos aos três que estão no BEP", afirma ele. Anderson Farias teria sido reconhecido por todos. "A reação foi gritante. As vítimas reagiram muito chocadas, e os moradores, com muito medo", disse.
Um outro policial que também foi expulso da PM, Wellington Cássio Diniz, também vai prestar depoimento na auditoria da Justiça Militar dia 25 de setembro. Os policiais presos ficarão no BEP pelo menos até a próxima audiência.

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