segunda-feira, 28 de julho de 2014

Três famílias de Campos à espera de Justiça



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Vítimas: Michael Barcelos Pereira Cabral, Carlos Augusto Ribeiro Rocha e Sandro Rogério Gomes

Da Redação

Está marcado para a próxima quarta-feira (30) o júri popular do policial militar Leonardo D'Oliveira Mayerhoffer, além de Ivaldo Ferreira dos Santos Júnior, o Gordinho. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por suspeita do crime de triplo homicídio qualificado ocorrido na madrugada do dia 19 de setembro de 2010, na Avenida Alberto Torres, no Parque Leopoldina, em Campos. As vítimas foram: Michael Barcelos Pereira Cabral, 26 anos; Sandro Rogério Gomes, 28, o Gerinho, e Carlos Augusto Ribeiro Rocha, 27, o Guti. Em caso de condenação, Mayerhoffer e Gordinho podem pegar até 50 anos de prisão.

O julgamento está agendado para começar às 10h, na Sessão Plenária do Júri do Fórum Maria Tereza Gusmão, no Centro de Campos. Mayerhoffer, Gordinho e mais quatro policiais militares, entre eles, Omar Ferreira Bacellar, foram presos no dia 2 de dezembro de 2011 durante a Operação Fim de Linha, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ.

O julgamento estava agendado para o dia 13 de novembro do ano passado, mas foi suspenso por ordem do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). A remarcação da data aconteceu depois de o TJRJ julgar improcedente o desaforamento do júri requerido pelo MPRJ. Para os desembargadores, a medida só seria cabível quando "o interesse da ordem pública o reclamar, quando houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou, ainda, suspeitas sobre a segurança pessoal do acusado, e inexistindo relatos de membros do Conselho de Sentença, ou mesmo de testemunhas, capazes de comprometer a imparcialidade do júri", o que não ocorreu no caso em tela.

Com relação ao Bacellar, a defesa recorreu em segunda instância e teve decisão favorável, fazendo com que o processo fosse desmembrado. Bacellar será julgado em outra ocasião. Outros três policiais militares, acusados pelo MPRJ de terem participado do crime, foram julgados e absolvidos, pois não tiveram participação direta e cooperaram com a Justiça.

Testemunha do crime

Uma testemunha do crime pode ser crucial para a condenação dos réus. Ela relatou, em depoimento na 134ª Delegacia Legal (DL/Centro), no dia três de agosto de 2012, que no dia do triplo homicídio estava na varanda da casa onde reside localizada na Avenida Alberto Torres, no Parque Leopoldina, quando viu os policiais militares Bacellar e Mayerhoffer fardados e parados em uma motocicleta por volta das 5h10, aproximadamente, no ponto de ônibus da Praça da Igreja do "Saco", local em frente onde ocorreram as três mortes.

Segundo a testemunha, ambos estavam sem capacete. Em seguida, ela resolveu entrar em sua casa e, pouco tempo depois, ouviu muitos disparos de arma de fogo e um som mais forte, levando acreditar que foi a batida do carro onde as vítimas estavam no muro da casa do vizinho. Sendo assim, logo desconfiou que Bacellar e Mayerhoffer tivessem cometido o crime, embora não tenha os visto atirando. A testemunha conta ter permanecido dentro de casa e que, no momento do crime, ouviu um barulho de motocicleta acelerando em frente a sua residência.

A testemunha informou ter ouvido falar que a vítima Gerinho seria envolvida com drogas, motivo pelo qual foi morto, e que as outras não tinham envolvimento com o tráfico de drogas. Ainda na delegacia, ela reconheceu a fotografia de Mayerhoffer como sendo o policial que estava com Bacellar, como dito anteriormente.

Divergência e suspensão do julgamento em novembro

Na época, a decisão foi proferida pelo desembargador do TJRJ Gilberto Campista Guariano e assinada pela juíza Bárbara Alves Xavier. O MPRJ, através da promotora Luciana de Jorge Gouvêa, recorreu à Justiça para que o crime fosse julgado em outra Comarca, mas a então juíza da 1ª Vara Criminal de Campos, Elizabeth Franco Longobardi, negou o pedido. O MPRJ recorreu ao plantão judiciário do TJRJ.
Para justificar o pedido de que o julgamento ocorra em outra Comarca, a promotora cita que: "A decisão combatida agendou para 13 de novembro de 2013, sendo certo que os jurados da Comarca de Campos dos Goytacazes não possuem a necessária imparcialidade para julgamento de tão grave crime. Tendo em vista que o réu - Leonardo D'Oliveira Mayerhoffer - é policial militar e possui envolvimento em grupos de extermínio no município".

Em outro texto, a promotora diz que: "Não bastasse o temor que os fatos supramencionados podem causar no ânimo dos jurados, e testemunhas, o corréu Omar Bacellar é sobrinho de um influente político local, que foi presidente da Câmara de Vereadores de Campos".

Em sua decisão, o desembargador Gilberto Guarino deferiu "parcialmente o pedido no sentido de suspender o Plenário do Júri Popular que seria realizado em 13/11/2013, até que se mantivesse o Órgão Criminal de 2ª Instância".

Sigilo quebrado

Visando a apurar a prática dos crimes de triplo homicídio e quadrilha armada, a juíza Elizabete Franco Longobardi determinou a quebra de sigilo telefônico dos terminais de Bacellar, Mayerhoffer e mais quatro policiais militares no período do dia 1º a 30 de setembro de 2010. Foram observados indícios do envolvimento de Bacellar e Mayrhoffer. O primeiro, respectivamente, mantém contato com presidiários através de telefone pessoal, inclusive marcando visitas com indivíduo que também é suspeito de ter envolvimento com o crime.

O segundo investigado, pelo teor das conversas com outro policial militar que chegou a ser investigado, indica que possui ligação com Bacellar, inclusive sendo informado acerca de um negócio que havia fracassado. Outro PM investigado se referiu a Bacellar e Mayerhoffer como supostamente integrantes de um "time ruim", ressaltando que alguém de uma Delegacia de Polícia lhe disse para abrir os olhos e que soube que o autor do triplo homicídio é Bacellar. Mayerhoffer chegou a ser nominado de matador por testemunha, que recusa reconhecê-lo ou contribuir com a investigação.

Manifestações - Familiares das vítimas chegaram a realizar manifestações pelas ruas do Centro de Campos, culminando com ato em frente ao Fórum Maria Tereza Gusmão, exigindo justiça. No ano passado, um outdoor ao lado da Ponte General Dutra foi colocado com declarações em nome das mães de Michael Barcelos Pereira Cabral e Carlos Augusto Ribeiro Rocha.

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